quarta-feira, outubro 21, 2009

Tum-tum

Distribuía gentilezas e sorrisos sinceros no decorrer de seus dias. Era naturalmente de boa índole. Desde cedo fora educado assim.
Ainda criança, cedia aos amigos sua vez na partida de pelada, no videogame e até na "salada-mista" com a menina de vestido floral.
Na adolescência, emprestava a bicicleta pra irmã, fazendo o percurso até em casa caminhando e por várias vezes assumia o sumiço do doce da geladeira, ainda que sequer tivesse visto. Não vivia assim como uma forma de auto-punição, muito pelo contrário.
Abria a porta para os outros, cedia a vez, fazia mesuras até aos pedintes de ponta de esquina. Fazia com prazer. Suportava as mais intensas provocações, sempre rebatendo com m sorriso de meia bochecha e um delicado "aaah eu discordo disso". Ate mesmo seu caminhado era sutil e silencioso, mesmo carregando no bolso aquele pesado molho de chaves que sempre o acompanhavam.
Agradava crianças e jovens, e os idosos o queriam adotar. Era esse tipo de gente, que se convida pro almoço logo que se conhece, e pro fim de semana antes que a o almoço acabe.
Um dia, vinha entrando com aquele sorriso de sempre, sem gestos exagerados, passos rapidos e silenciosos e a respiração perfeitamente ritmada sob a camisa branca e bem passada com um leve aroma de amaciante de lavanda. Ao chegar no meio do saguão, trocou as flores da mesinha e então abriu lentamente o paletó, deixando brevemente visíveis aquelas linhas bem distribuídas de de silver tape e dinamite, além de um cronômetro digital sobre o coração. Apertou o botão e com um breve clique mandou tudo pelos ares em uma estrondosa explosão.
Misturavam-se nacos de carne, pedaços do teto, paredes e vidro. Ninguém sobreviveu.
Teve uma vida interira de coração tranquilo e gentilezas, mas o coração de um Homem-Bomba bate uma vez só.