sábado, janeiro 30, 2010

GIM BARATO

O velho bêbado entregava-se ao chão sob os auspícios de uma garrafa de gim barato. Esfolava as mãos e os joelhos na queda, mas continuava ostentando um sorriso largo de dentes amarelos e quebradiços. Cantarolava músicas de outros tempos – que provavelmente não haviam sido criadas de fato em um outro momento e nem efetivamente neste - um grande punhado de palavras sem relação aparente ou um sentido claro. Mas ele estava feliz.

Pedestres desviavam quase que subconscientemente o caminho, evitando pisá-lo. Encostado na parede, silenciava por um instante, sentindo o vento em sua barba suja e seu rosto enrugado, e também deslizando pelos buracos da casaca verde-ontem que poderia ou não ser, ainda que hoje um monte de farrapos, o que já fora uma exuberante farda militar. Erguia a garrafa em um brinde com o universo ou o que quer que saísse de sua boca. “Cada um dá ao Diabo o seu quinhão!” poderia ser o teor de suas palavras. Não se sabia. Se visto momentaneamente, alguns o invejariam e diriam se tratar de uma comemoração muito adequada. Outros porém, talvez dissessem ser apenas mais um mendigo sem nome com hábitos particularmente estranhos.

Em todo caso, a luz do sol também brilhava para ele.

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Um comentário:

marcos pardim disse...

não só o gim, mas toda e qualquer emoção barata muito me aguça o interesse. 1 abraço