segunda-feira, julho 16, 2007

EL PICHADOR

[imagem: grafite de autoria de Banksy]


EL PICHADOR
Caminhava apressado e desconfiado. As mãos escondidas nos bolsos. Passos curtos e ligeiramente vacilantes. Procurou um lugar com pouco movimento. Apenas alguns transeuntes e nenhum desconfiaria dele: O capuz do casaco garantiria o segredo de sua identidade. Não que tivesse algum medo de ser descoberto, já que na verdade não passava de mais um zé-ninguém perdido no mundo. Um anarquista imaginário sem grandes feitos, que não aquelas mensagens de rodapé de grandes muros.
De cedo teve vontade de causar desconforto. Perturbar, ainda que por alguns segundos. Incitar o questionamento...
Não ansiava por grandes transformações na cabeça de ninguém, ainda que fosse esse o sonho de qualquer um dos anarquistas romanticos. Limitava-se às rápidas desconstruções.
Os que já tinham visto seu trabalho talvez pensasem ser ele um escritor de rodapés porque falava aos cabisbaixos, aos perdidos do mundo de olhar rente ao chão. Tão enganados estavam... queria ele escrever em altos muros sim, se lá sua mensagem pudesse mesmo ser entendida. Não havendo jeito, preferiu aceitar-se e pichar quase junto ao chão em um grafite rápido: “você devia estar olhando acima das estrelas”
Vivia assim, confundido com um artista que escrevia em rodapés como protesto, quando na verdade era portador de nanismo. O anão pichador traduzia perto dos pés o que era pra ser dito à alma.
Bem aventurados os sonhadores.