Relutante, tentava não balançar as pernas, brincar com os anéis ou beliscar o queixo - pequenos tiques adquiridos com as voltas do relógio - mantia aquela falsa expressão de comportamento adequado.
Ao lado o mundo gritava na correria louca de transeuntes sem rosto que pareciam amarrados, andando em fila indiana: quanta pressa!!
Retirou do bolso o seu lápis-rouba-sonho, ferramenta que usava para transcrever delírios em letras e desenhos estranhos, e começou a desconstruir. Despoemas, crônicas invertidas ou histórias de final duvidoso. O ofício de enfileirar letras e causar pequenos transtornos como uma forma de fugir daquele mundo corre-corre é para poucos um tique (que assim seja em forma exagerada com crises histéricas).
Repousou calmamente o lápis no bolso quando ouviu seu nome.
Essa costumava ser sua manhã no mundo engravatado dos normalóides: fingir andar reto e certinho, enquanto conspirava secretamente pra deixar o mundo um tanto mais surreal.