quinta-feira, janeiro 26, 2012

Sobre Rosas & Cores



Nunca havia mandado rosas. O perfume delas lhe trazia à lembrança um cheiro de morte. Isso não quer dizer que não mandaria outras flores. Mandaria girassóis, aquelas grandes e desajeitadas flores amarelas, cheias de dentes, cuja ousadia lhes fazia girar e ver meio céu por dia. Talvez optasse por orquídeas, as trepadeiras vadias cuja sobrevivência dependia de abrir as pernas e abarcar quanto caule lhe fosse possível, sem perder seu charme. Havia uma certa beleza irônica nisso.

Poderia parecer que não era romântico, o que de fato se tratava de um terrível engano. Era dos canalhas o mais romântico. Mas não desses românticos de voz melosa e braços abertos, que levava um joelho por terra e recitava o que a grande maioria entendia por poesia. Era um imoral. Um devasso, cujos poemas de amor jamais seriam publicados em um jornal qualquer do mundo, no dia dos namorados. Sua poesia era aquela que brotava na noite, sob a meia-luz de um recinto, fosse ele um inferninho cujo nome não lembraria ou um quarto de motel com placa em neon-escárnio, em uma estrada qualquer onde o mundo joga seus perdidos. Seu romantismo não tinha coração. Era todo dentes, bocas e mãos. Era versos sujos, recitados com língua dormente de álcool mas acesa como a chama dos infernos. Suas palavras eram extensão de seu próprio corpo, com uma dúzia de mãos a acariciar quem ouvisse.

Não era dado a apegos formais, mas perdia-se em vontades e imaginações devassas do amanhecer ao anoitecer, fosse ou não regido por pequenas pausas para um cigarro. Apegava-se a delírios, tesão e admiração. E não, isso não era como uma paixão qualquer, era por si um ato egoísta de ver em alguém o que tinha em si. Amava-se nos outros, e por vezes seguidas com interrupções meramente humanas.

Gritaria à janela, dançaria a dois, mas sua concepção de matrimônio era em um bar no México onde o sacerdote era um barman de traços indígenas e a valsa um misto de Rolling Stones e The Coasters, numa dança suada feita de olhares, sorrisos e coreografias improvisadas.

No mais, era um canalha confesso. Sua idéia de fidelidade era sua própria satisfação. Por sorte, sentia-se satisfeito em dar prazer tanto quanto em receber. Era culpado e admitia com um sorriso alto e olhar ordinário, desses que não se vê antes da 6ª dose de tequila.

Prometia-se, doava-se. Sem se perder do próprio umbigo. Era intenso e voraz, sempre faminto do que desejava. Não planejava amanhãs. Seguia seu próprio rumo onde seus dedos o levassem, rindo satisfeito contanto que ali, ao alcance de suas mãos estivessem todos os prazeres de que necessitava pra viver, inclusive um baseado e alguém que o atormentasse em cada um dos sentidos, fossem de seu corpo ou de sua imaginação.

Mas não mandaria rosas, nem recitaria poemas de amor qualquer, que não o amor louco: o mundo tinha muitas cores normais pra que não usasse sua própria aquarela surreal.

domingo, janeiro 08, 2012

08 de janeiro, dia do Fotógrafo









Hoje é dia do fotógrafo!

Isso leva inicialmente à uma reflexão: Não é o fato de ter uma câmera que faz de alguém fotógrafo. Viver da arte, estudar e principalmente ter consciência que fotografia não é apenas apertar um botão. É guardar momentos, compor com a luz, transformar o mundo com desenhos da realidade. Ser fotógrafo é dar aquele sorriso de satisfação pro seu cliente, 20 anos depois quando ele vê aquele álbum de um dos grandes momentos de sua vida. É um ato de apropriação da história alheia, devorando com os olhos e se transfomando em parte da biografia, mas não com seu nome e sim com sua arte. É não esquecer jamais que aquilo que você fotografa é que é o mais importante, você é apenas o cara que estava atrás da câmera.
"Glamour" da profissão, meus caros, não é ter seu nome lembrado, mas sim suas imagens. Isso é ser fotógrafo!

Minha imensa admiração aos grandes mestres, que abriram - e abrem - nossos olhos cada dia mais pro caminho do clique perfeito; aos colegas que atuam nas mais diversas áreas, social, publicidade, fine art, autoral e principalmente fotojornalismo. Todos tem seu mérito, seu valor e sua importância.






(Foto Raul Leite - de pé à esquerda Igor Prado, à direita Caio Bruno, abaixo Regis Falcão)

(Foto Raul Leite, todas durante a cobertura dos Protestos estudantis em Teresina - à esquerda Igor Prado, Caio Bruno, Regis Falcão)


(Foto Raul Leite - à esquerda Igor Prado, Victor Gabriel, Regis Falcão, Raul Leite e Mauricio Pokemon)



quinta-feira, janeiro 05, 2012

COMODISMO X REVOLUÇÃO


Meus queridos amigos,
Muito bonitinho vocês dizendo pra que os protestos ocorram com florzinhas e canções. Muito poético vocês acharem que a vida é um musical da Disney e no meio da luta estudantes, prefeito e polícia vão dançar e cantar sorridentes. Muito inocente e fofinho vocês acharem que os estudantes deviam ficar na calçada balançando bandeiras e cantando de cara pintada e sem interromper as vias, apenas agitando os braços sem incomodar, como o fazem aqueles bonecos de posto de gasolina. Respeito opinião de vocês. Deve ser legal viver nesse mundinho à parte, chamando de vândalo, baderneiro, arruaceiro quem luta pelos direitos e briga com o Sistema, mas sinto informar que a vida é menos coloridinha e risonha. Não existe Revolução sem barulho, Mudança sem incômodo e muito menos Luta sem desordem. Saia da sua zona de conforto. Acorde pra vida. Não acredite em tudo o que lê do conforto de sua cadeira giroflex, na sua telinha de lcd. Vá pra rua. Veja e faça a sua opinião baseado nos seus próprios olhos.
Respeito seu direito à ter uma opinião, meu caro, mas reitero o convite pra que ela não seja superficial e baseada numa série de interesses alheios que desviam da realidade dos fatos.
A Luta é justa. Os métodos são válidos e a realidade do movimento não é aquilo que você vê de longe.
Incomoda? sim, muito! e deve incomodar! parar o trânsito, atrapalhar a ida e vinda de terceiros faz parte. Infelizmente não há como ser brando quando a questão é tão séria.
Restam duas opções: continue criticando o movimento, os "estudantes arruaceiros" do conforto de sua casa, do frescor do ar-condicionado de seu carro, alienado pela própria ignorância, pela própria falta de vontade de fazer alguma diferença no mundo, acorrentado pelo seu comodismo vergonhoso ou vá pra rua e veja com quantos gritos se faz uma mudança.
Nas palavras do Livro Vermelho:
"A revolução não é um convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado, ela não pode ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda, tão afável e cortês, comedida e generosa. A revolução é um insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra."
#contraoaumento
#contraaintegraçao