quinta-feira, julho 02, 2015

Palito de Picolé

Às vezes escrever é uma libertação, em outras é uma criança gorda e teimosa que se nega a andar. As palavras vão se amontoando na mão, umas em cima das outras, se enfileirando atrapalhadas, se acotovelando confusas e quando me dou conta elas desabam desordenadas e atônitas, e fazem isso se espalhando displicentemente pela minha camisa, pela mesa, em cima do cachorro e até pelo chão, mas nunca no papel. E aí já perdi o texto e estou refletindo sobre como um palito de picolé é uma peça de arremesso triste, mole e úmida depois que o doce gelado vai embora e que essa - a tristeza mole do palito - deve ser a razão de colocarem frases motivacionais nele.

quinta-feira, maio 21, 2015

O vendedor de passagens da rodoviária


Naquela cidade charmosa de gente simpática, aguardo o ônibus das 16:45 na companhia dos Cronópios.
Espero.
Naqueles bancos desconfortáveis de madeira velha e feia, espero.
Rodoviárias são não-lugares de sabor estranho. Sempre sujas, sempre tristonhas. Não possuem aquela atmosfera colorida cheia de eletricidade estática e neon dos aeroportos. Rodoviárias são tristes.
As não-pessoas que lá transitam, existem em chegadas ou partidas, jamais em permanências. Elas não estão.
Observo.
Nesse momento não sou um dos que não está, me favoreço do exercício do olho em que se está e não está, também, mas de uma forma que isso não interfere – ou pelo menos não importa – enquanto meu relógio parece dar menos voltas que a do senhor barbudo com cheiro de capim e cigarro velho sentado do meu lado direito.
Observo.
A senhora enrugada, com seu arranjo de flor amarelo-ontem no cabelo, com aquela expressão triste e nervosa de quem não tem certeza que colocou comida pro gato antes de sair de casa.
A moça de pernas bonitas que está lá ainda menos que os outros – mas ela parece jamais estar mesmo em lugar algum, de qualquer forma – enquanto seus dedos deslizam na tela de cristal luminoso que amarrou seus olhos. A única coisa que faz com que a gente saiba que é um alguém (e não um alguma coisa de pernas bonitas), é o meio sorriso que escorrega no canto esquerdo da boca vez ou outra.
Observo.
O rapaz afoito de unhas bem pintadas e sandálias gastas (controvérsia essa que no mínimo me deixa ainda mais curioso sobre ele), aborda qualquer um que passe no raio de sua mão esticada: “- amigo, você também está procurando carona?”.
As adolescentes de cheiro doce-enjoado, que parecem nunca ter não-estado lá, naquela ânsia juvenil e excitada de quem faz algo que não devia. “Amiga, eu vou. Amiga, não vou. Amiga, eu vou”.
Mas de todas as figuras desse não-lugar estranho, quem me chama mesmo a atenção é o vendedor de passagens. Seus olhos penosos, perdidos, escorrem pra um lado e pro outro em um desespero comedido, tentando não se apegar em nada nem ninguém, como quem há muito parou de lutar contra a correnteza, de tentar se agarrar em algum tronco ou poste, e agora se deixa ir à deriva na enxurrada. Ele é o único ali que não desfruta dessa temporária não-permanência, naquele não-lugar triste que é uma rodoviária. Ele lá está mesmo, todos os dias, conhecendo por três minutos as não-pessoas que existem apenas no espaço de tempo do diálogo: (destino) qual o próximo? - (horários) - quanto? – (valor). Mesmo suas curtas falas são idênticas. Sua sina é repetir o gesto e o verbo na reticência do calendário.  
O vendedor de passagens, esse sujeito que tem o sorriso forçado de atendente de guichê tatuado nas maçãs do rosto, está lá todos os dias e é a única pessoa que está. Testemunha das partidas e chegadas, naquele constante estado de apresentação e despedida. Está só. O outro só existe pra ele até que entregue aquele pedaço de papel ruim em duas vias, com hora de saida e chegada, que rascunha todo o destino do portador enquanto estiver na barriga do ônibus. Tão logo entregue o papel, não lhe existirão mais nem a velha enrugada, nem a moça de pernas bonitas, nem o rapaz afoito, nem as adolescentes de cheiro doce-enjoado (ou mesmo eu que ali apenas observo, mas isso não vem ao caso). Todos terão ido e deixado de existir naquela realidade momentânea. Todos menos ele, que sempre estará lá com seu sorriso forçado e olhos perdidos, em um não-lugar convivendo com não-pessoas.

Como é triste a vida do vendedor de passagens da rodoviária. 

segunda-feira, abril 08, 2013

Meu vício pelas letras (ou Como uma livraria mal organizada estimula seu cérebro)


Tenho uma das mais extensas coleções do mundo. É também uma das mais extravagantes: minha coleção de vícios. Provavelmente o maior deles seja o de ler.
É, porém,um vício democrático. Clássicos, poesia, filosofia, ficção, underground, quadrinhos, bula de remédio, letras miúdas de anúncio. Que fique registrado que renuncio enfaticamente à auto ajuda.
Não podia ser diferente. Boa parte dos vícios é genético. Sou filho de “pais leitores”. Minha mãe é uma leitora habitual. Sempre anda com uma pilha de livros e até hoje é cena comum vê-la dormir com um livro nas mãos, quando não borda até os dedos se perderem nos emaranhados de linhas. Meu pai era um leitor cujo gosto me influencia até hoje. Lovecraft, Poe, Tex, Zagor, Conan Doyle. Por uma estranha ironia, um dos primeiros livros que lembro ter lido com meu pai foi “A queda da Casa de Usher”, em que o arco principal da história gira em torno de uma maldição sanguínea que leva a família à loucura. No nosso caso, ao vício.
Como um viciado, também posso atribuir meu problema à minha infância tumultuada ou mesmo à adolescência difícil. Os castigos da minha mãe eram piores que a “palmada disciplinadora” ou a surra da educação. Não, não apanhava. Meu castigo era ler livros escolhidos por ela e depois escrever redações. Como uma boa criança endiabrada, li e escrevi no primeiro terço da minha vida mais do que muitos não farão na vida inteira. Não suficiente, quando percebeu que o vício já havia me tomado, fazia uma permuta astuta, como todo traficante o faz: para cada revista em quadrinhos que ganhava, também tinha de ler um livro à sua escolha. A consequência disso veio na adolescência, quando eu já trocava a pelada do intervalo da escola pela biblioteca. Por conta disso, nunca fui apto à desenvolver qualquer afinidade com futebol, mas de tanto frequentar a biblioteca municipal perto da minha casa, encontrava livros mais rápido que os funcionários e levava pra casa o dobro de exemplares  permitido.
Hoje meu caso é ainda mais grave. Tenho mais livros do que posso ler, desejo ter mais do que posso comprar e compro mais do que devia. Sou um viciado confesso e não tenho possibilidade alguma de recuperação. A medicina desistiria fácil do meu caso.
Minha compulsão chegou à um ponto em que me relaciono com os livros como se tivessem vida – e tem.  Sinto um prazer quase erótico em deslizar os dedos nas páginas, sentir a textura das páginas, o cheiro. E não apenas o cheiro dos novos mas também dos velhos. É como se pudesse inspirar todas as historias que estão nas paginas, mas não em letras. Sentir os lugares por onde andou, as mãos que passaram ali antes... é como uma paixão por uma amante exótica vinda de uma conceituada Casa francesa. Me acostumei a habitar entre livros e eles sempre estão tão perto de mim quanto minhas roupas, minha câmera e meus cigarros. Uma simbiose permanente.
Por causa do vício, blibliotecas e livrarias são meus lugares favoritos. Já tive relacionamentos abalados por causa de livrarias. Me perco. Esqueço o tempo, as horas, os compromissos. Me torno egoísta. Me agrada transitar entre as prateleiras, olhar pra eles, flertar.  Passar os olhos pelos títulos, pelas orelhas, contracapas. A leitura começa à distancia. É preciso fazer apresentações, ganhar intimidade antes de tocar, antes que um livro se abra pra você. Do contrário é só ato mecânico. É comer sem degustar. É sexo pago por prazer imediato.
Por essa compulsão metódica e vício respeitoso, hoje fiquei incomodado ao entrar numa livraria local. Era um caos. Na mesma prateleira Guimarães Rosa, Nietzsche, Marian Keyes, Kafka, Como emagrecer sem sofrer e Tratado de Processo Penal. Era como colocar um grupo de estranhos sem afinidades, sentados um ao lado do outro e esperar um diálogo. Não consegui. Transitei por três minutos e desisti. Simplesmente não conseguia raciocinar e nem encontrar qualquer coisa que me agradasse. Chamei uma das vendedoras e quando perguntei o motivo daquele método (?), recebi a explicação de que “a organização por editora e não por assunto facilita para os vendedores”.
Meu lado de viciado ficou tão inquieto que precisei escrever. Seria possível que não soubessem? ninguém tinha contado pra eles que você só compra um livro em situações específicas. Na maioria dos casos se adquire, adota?

Sou um viciado confesso. Queria que todo o mundo tivesse a chance de fazer a cabeça, de experimentar uma dose, injetar letras, cheirar páginas e páginas. Esse é um caminho sem volta. Por favor, use sem moderação. 


Nota do autor: 
comprar um livro: ato mecânico, funcional de ação limitada e específica, motivada pela necessidade imediata de cumprir os rigores pedagógicos da instituição ou certame, geralmente praticada por mães comprando livros escolares, estudantes em busca de paradidáticos e concurseiros. Recomenda-se ter um coração aberto e incluir outros livros sem a obrigação.
adquirir um livro: ato ocasionado pelo vício, prazer ou paixão instantânea e incontrolável, caracterizada pela troca de valor monetário ela liberdade das letras. Recomenda-se manter longe da poeira, afeto e ausencia de ciúmes.




segunda-feira, janeiro 14, 2013

Clichês e Biografia

Envelhecer não significa ficar velho. Isso é um estado de espírito.

          Usando do bom e velho clichê. Mas clichê é um recorte da vida real. Fato que vira nota em rodapé.
O fato é que a melancolia acompanha a virada, a nova idade. Difícil se eximir de pensar no tempo e nos anos que se amontoam na carteira de identidade. Autoavaliação é o número de velas sobre o bolo.
O fato é que envelhecemos. Ganhamos cabelos brancos e rugas, mas também ganhamos o maior tesouro da vida: Histórias. O incremento da biografia. Nessa receita, as pessoas que conhecemos, os lugares visitados, os filmes assistidos, os livros que foram lidos. Tudo isso compõe o cliche.
O tempo faz o raciocínio mais rapido - antes de torná-lo mais lento. A experiência faz o índice de erros diminuir(mas nunca acabar. Errar também é viver).
Um ano a mais de vida é um capitulo do livro que somos condenados a não conhecer, de fato, o fim. Aprender a conviver com o acúmulo dos anos é um caminho inevitável: não se vence a ampulheta.
Todo o clichê e o biografia fazem buscar um outro chavão, cuja segunda parte é sempre esquecida mas muito conveniente: Carpe diem. Memento Mori.
Envelhecer faz bem.


PS: quanto à você, aniversariante de hoje, como crítico de arte e admirador do belo e efêmero, digo sem medo do erro: Seu sorriso ficou ainda mais bonito desde a última meia noite. Ficará ainda mais e eu quero ser testemunha próxima e participante de cada sorriso-ano que virá.  

quarta-feira, dezembro 19, 2012

SOBRE AMOR E OUTRAS CERTEZAS


Amor é imprudência. 

É inventar desculpa pra sentar do lado de um estranho em um bar qualquer só pra ouvir de perto aquele sotaque.
É passar horas de uma noite descobrindo afinidades, coincidências assustadoras e farfalhar na imaginação. É pensar que a luta no ringue adiante não devia acabar, mas dar mais tempo ao embate silencioso de olhos.
É quando todo mínimo toque é muito e o muito é, ainda assim, pouco: É querer mais.
É quando na primeira despedida se sente as pernas trocarem e a incerteza vir em forma de suor de mãos. É o espaço de tempo que divide a entrega de um numero-convite em papel e o olho que segue até não alcançar mais: Se chama despedida cinza.
No amor, toda casualidade é farol. Brilha na luz da hesitação. Grita no ouvido, ainda que a teimosia da dúvida se faça de âncora. [Não existem dúvidas no amor, tudo é certeza tímida que acena e faz charminho]
Amor é quando se descobre no primeiro beijo que o mundo explodiu. Que não existe outro, outras, outrem.  Aquele primeiro é o último primeiro beijo que se quer.
Amor torce o cronômetro e avessa a física: quando menos se espera a visita dobrou o sol, guardou no bolso e tornou a soltar na manhã seguinte (e não se fica satisfeito). A ampulheta deita e assim se congela o tempo.
É quando o nariz descobre que o pescoço é praça de passeio constante. Quando se vira pintor surrealista de aquarela imaginária nas costas do ser amado: o dorso curvo é uma tela que nunca se acaba de pintar.
Amor é janela de cego. Mapa em braile a se traçar e repetir com dedos atenciosos e curiosos: uma descoberta nova e familiar à cada toque numa rotina que nunca se cansa.
É amor quando seu banheiro vira varal e sua cama ganha travesseiros novos: Amor é designer de interiores, seja de cômodos ex-solteiros, seja de coração-sala ex-vazia.
É acordar no meio da noite e sentir no braço dormente o aconchego confortável dos amantes: formigamento na alma e no corpo, convulsão sorridente.
Amor é quando se é imprudente. Quando se morde a língua e faz o que prometeu nunca fazer. É apostar alto: Não há espaço para blefes na mesa do café da manha.
Amor é feito relâmpago, que surge antes do barulho. É fatal na vida de um e funde dois. Faz bater coração de lata e transformar pedra em suspiro: constrangimento consentido diante da plateia de amigos.
Amor não tem vergonha. Amor é sem vergonha. Se livra de roupas com a facilidade que um cigarro se esvai. Sim, pode fumar aqui.
Amor não é quando completa, mas quando acrescenta. É somar com cara de dividir numa operação matemática complexa que se resolve um dia por vez, mas se define as variáveis num único beijo que se repete com todos os exageros que a vida permite:Todo amor é teórico-prático de insurreições algébricas de corpo-alma.
Amor é inconsequente e renova todos os dias a promessa rebelde de revolução entre as colchas, entre as coxas, entre as conchas. É uma criança com uma caixa cheia de dinamites. Amor é acender o pavio e esperar junto pela explosão: explosão, incêndio e nunca cinzas. Sempre fogo, mesmo quando o coração muda de salsa para tango.
Amor é tudo isso e um pouco daquilo com uma pitada daquilo outro. Amor não é um amontoado de anos – tempo tempo tempo – amor é um dia por vez, sem virar a folha do calendário: no amor, é sempre hoje.


quarta-feira, outubro 24, 2012

Vergonha Nossa

(manifestante durante os protestos estudantis de 2012 - Teresina/Pi)



          Ontem quebrei minha promessa e assisti ao debate dos dois candidatos ao 2º turno das eleições municipais de Teresina.
Não vi propostas, não vi soluções, não vi seriedade. O que vi foi um festival de troca de acusações e um grande teatro. Me lembro logo da letra do Rage Against the Machine: "eles aparecem como dois, mas falam como um". E é isso. Dois lados idênticos de uma mesma política corrupta e vergonhosa. 

         Por quase 5 anos fui acadêmico de Direito. Entrei na faculdade com aquele sonho estúpido, aquela ilusão boba de que o mundo era um lugar bonitinho e a Constituição era o grande escudo da democracia moderna. Desencantei. Conheci a corrupção em todos os níveis e esferas dos três poderes.

         Lembro bem que durante os mandatos do candidato que tenta voltar, nada foi feito pela cidade, senão a implantação de um sistema conhecidamente fraudulento de multas de trânsito, merenda escolar enterrada, desvio de verbas. 
        No mandato do que ainda é e tenta ficar, o que me vem logo à memória é tudo o que vivemos durante os protestos de setembro de 2011 e janeiro de 2012.Lembro bem a postura do Sr. Prefeito Bigode, que quando não se escondia com medo de assumir a posição de governante e evitar que a cidade chegasse ao caos, ia pros meios de comunicação bem pagos pelo seu bolso numa tentativa ridícula de manipulação, criminalizando o movimento e os estudantes. 

VOTO NULO e explico: Não quero ter na minha consciência a responsabilidade de ter contribuído para colocar mais um boneco sujo na cadeira. Que não me venham os iludidos com a escusa de que "quem deixa de votar colabora pro outro". Pergunto: que outro? pra mim são todos o mesmo.
Não votei, não voto, não votarei. Esse é meu protesto contra um sistema corrupto, repressivo e de pura aparência. Não respeito o processo eleitoral e nem candidatos enquanto pessoas realmente sérias não se apresentarem ao certame. 

É direito de um cidadão viver na ilusão na cria. Não tenho dó de quem alimenta o Lobo do Sistema com sua própria ignorância. 

Voto Nulo porque me envergonho dos candidatos que temos.










sábado, fevereiro 04, 2012

VÍCIO AMARGO E QUENTE

[...e outros pecados da língua]



Sempre tive métodos nada ortodoxos de avaliar pessoas.
O mais cruel deles é o ritual do café. Convidava com aquele sorriso de navalha para tomar um café – armadilha inclusa. Dependendo da resposta, caía de imediato na bula dos esquecidos, na caixa restrita de pessoas evitáveis.
Condeno a identidade pelo conteúdo do copo. Não nego. Sou um carrasco megalomaníaco, no que diz respeito a bons hábitos ruins. Beber café é a primeira chave do voto de confiança. Os maiores criminosos eram abstêmios do “despertar negro”. Há exceções, claro. Mesmo bandidos podem ter bom gosto, e café é a última cota da arte de permanecer atento.
Passado o primeiro passo, o da afinidade do vício, sigo para o hábito em si. Tomar pouco café é como o que não senta no boteco para o segundo chopp: faz todo o percurso mas se retrai às portas do paraíso. Tomar uma xícara pela manhã e só, não faz de você um monge de olhos abertos. No máximo um coroinha do sagrado rito, que nunca ascenderá à tocador de sino, ou mesmo de Papa da madrugada. Beber muito café – diga-se, ser um devasso da garrafa, o terror da repartição, o chato da empresa e o tormento da copeira – é qualidade de gente inquieta. O café está para a criatividade como o dinheiro para a calcinha da stripper.
Mas não é só beber e beber muito. Tem de beber do jeito certo.
- Café frio é como beijo de anjo na chuva: gelado e sem tesão. Café tem de ser quente. Arrancar aquele suspiro discreto antes do gole, disfarçando pra língua, a brasa sorrateira;
- Café fraco é coisa de gente covarde. É como ir na festa e tomar cocktail sem álcool. É aquele sujeito que usa cinto e suspensórios, porque não tem coragem pro risco de ficar sem calças. Café bom é aquele forte, que fecha um dos olhos do degustador, tamanho estalo que gera no cérebro. Se não causa aquela experiência de Lázaro, arrancado da tumba de volta à vida, não compensa. Soco no palato com suspiro de satisfação. Sensação de ter o cérebro momentaneamente pressionado contra uma bateria de caminhão por um golpe de dois tijolos.
- Café doce é coisa de gente amarga e gananciosa. Que precisa de motivo pra ficar feliz. Que precisa descarregar colheres e colheres que nunca vão dissolver e no fundo da caneca vira aquele rastro grudento e estranho que irrita a dona da casa. Na gastronomia açúcar é o ditador do sabor. Não se toma café doce, se “acrescenta um torrãozinho” pra temperar o cigarro seguinte.
Outro item que convém - talvez seja o mais importante – é a qualidade do pó. Quem economiza no pó do café não pode ser bom marido, bom amante ou bom amigo. É marido que compra pão dormido pela impaciência de esperar os 15 minutos da próxima fornada: o desdém da manhã de sábado. É quem toma banho antes do cigarro no pós-coito. É quem evita 3 minutos de empenho dos ouvidos quando o vizinho sofre. Pó de café tem de ser de boa qualidade, sob pena do ostracismo das visitas de meio de tarde e de um lado da cama vazio na manhã seguinte.
A variação da categoria é o que usa o café solúvel. É o ócio do apressado. A casualidade dos que tem o sono à toa, mas não arriscam. É o fingimento dos semi-acordados, com uma caneca de meio despertar na mão. Nem dormindo, nem acordado: um pedaço de realidade deslocado entre lá e cá.
Sempre tive preconceito, confesso. Mantive um pé atrás com os tomadores de Nescafé durante anos. Conspirava secretamente um pequeno ato de terrorismo que afetasse seu ritual, fosse um tropeço, fosse um seqüestro. Planejava silenciosamente estragar todo o seu quase-trabalho. Seria como impedir um crime grotesco: perfeitamente aceitável pela sociedade.
Mas a língua é um pedaço maldito. A mesma que degusta o bom sabor, faz pagar pelo pecado. Então a conheci... Ela tinha dotes de culinária diplomada e dom pra cozinha [Dentre outros tantos]. E... mania de Nescafé. Fui traído. Primeiro me apaixonei e perdi todos os conceitos e travas de segurança. Só me restaria – em condições normais – a salvaguarda do café. Tarde demais. Quando descobri que ela tinha aquela mania de café solúvel e leite pra começar o dia, já havia me perdido na inevitável condição de desejar acordar todas as manhãs dividindo o armário da minha caneca de café puro com a dela de Nescafé e Leite.
O amor é uma coisa estranha.

quinta-feira, janeiro 26, 2012

Sobre Rosas & Cores



Nunca havia mandado rosas. O perfume delas lhe trazia à lembrança um cheiro de morte. Isso não quer dizer que não mandaria outras flores. Mandaria girassóis, aquelas grandes e desajeitadas flores amarelas, cheias de dentes, cuja ousadia lhes fazia girar e ver meio céu por dia. Talvez optasse por orquídeas, as trepadeiras vadias cuja sobrevivência dependia de abrir as pernas e abarcar quanto caule lhe fosse possível, sem perder seu charme. Havia uma certa beleza irônica nisso.

Poderia parecer que não era romântico, o que de fato se tratava de um terrível engano. Era dos canalhas o mais romântico. Mas não desses românticos de voz melosa e braços abertos, que levava um joelho por terra e recitava o que a grande maioria entendia por poesia. Era um imoral. Um devasso, cujos poemas de amor jamais seriam publicados em um jornal qualquer do mundo, no dia dos namorados. Sua poesia era aquela que brotava na noite, sob a meia-luz de um recinto, fosse ele um inferninho cujo nome não lembraria ou um quarto de motel com placa em neon-escárnio, em uma estrada qualquer onde o mundo joga seus perdidos. Seu romantismo não tinha coração. Era todo dentes, bocas e mãos. Era versos sujos, recitados com língua dormente de álcool mas acesa como a chama dos infernos. Suas palavras eram extensão de seu próprio corpo, com uma dúzia de mãos a acariciar quem ouvisse.

Não era dado a apegos formais, mas perdia-se em vontades e imaginações devassas do amanhecer ao anoitecer, fosse ou não regido por pequenas pausas para um cigarro. Apegava-se a delírios, tesão e admiração. E não, isso não era como uma paixão qualquer, era por si um ato egoísta de ver em alguém o que tinha em si. Amava-se nos outros, e por vezes seguidas com interrupções meramente humanas.

Gritaria à janela, dançaria a dois, mas sua concepção de matrimônio era em um bar no México onde o sacerdote era um barman de traços indígenas e a valsa um misto de Rolling Stones e The Coasters, numa dança suada feita de olhares, sorrisos e coreografias improvisadas.

No mais, era um canalha confesso. Sua idéia de fidelidade era sua própria satisfação. Por sorte, sentia-se satisfeito em dar prazer tanto quanto em receber. Era culpado e admitia com um sorriso alto e olhar ordinário, desses que não se vê antes da 6ª dose de tequila.

Prometia-se, doava-se. Sem se perder do próprio umbigo. Era intenso e voraz, sempre faminto do que desejava. Não planejava amanhãs. Seguia seu próprio rumo onde seus dedos o levassem, rindo satisfeito contanto que ali, ao alcance de suas mãos estivessem todos os prazeres de que necessitava pra viver, inclusive um baseado e alguém que o atormentasse em cada um dos sentidos, fossem de seu corpo ou de sua imaginação.

Mas não mandaria rosas, nem recitaria poemas de amor qualquer, que não o amor louco: o mundo tinha muitas cores normais pra que não usasse sua própria aquarela surreal.

domingo, janeiro 08, 2012

08 de janeiro, dia do Fotógrafo









Hoje é dia do fotógrafo!

Isso leva inicialmente à uma reflexão: Não é o fato de ter uma câmera que faz de alguém fotógrafo. Viver da arte, estudar e principalmente ter consciência que fotografia não é apenas apertar um botão. É guardar momentos, compor com a luz, transformar o mundo com desenhos da realidade. Ser fotógrafo é dar aquele sorriso de satisfação pro seu cliente, 20 anos depois quando ele vê aquele álbum de um dos grandes momentos de sua vida. É um ato de apropriação da história alheia, devorando com os olhos e se transfomando em parte da biografia, mas não com seu nome e sim com sua arte. É não esquecer jamais que aquilo que você fotografa é que é o mais importante, você é apenas o cara que estava atrás da câmera.
"Glamour" da profissão, meus caros, não é ter seu nome lembrado, mas sim suas imagens. Isso é ser fotógrafo!

Minha imensa admiração aos grandes mestres, que abriram - e abrem - nossos olhos cada dia mais pro caminho do clique perfeito; aos colegas que atuam nas mais diversas áreas, social, publicidade, fine art, autoral e principalmente fotojornalismo. Todos tem seu mérito, seu valor e sua importância.






(Foto Raul Leite - de pé à esquerda Igor Prado, à direita Caio Bruno, abaixo Regis Falcão)

(Foto Raul Leite, todas durante a cobertura dos Protestos estudantis em Teresina - à esquerda Igor Prado, Caio Bruno, Regis Falcão)


(Foto Raul Leite - à esquerda Igor Prado, Victor Gabriel, Regis Falcão, Raul Leite e Mauricio Pokemon)



quinta-feira, janeiro 05, 2012

COMODISMO X REVOLUÇÃO


Meus queridos amigos,
Muito bonitinho vocês dizendo pra que os protestos ocorram com florzinhas e canções. Muito poético vocês acharem que a vida é um musical da Disney e no meio da luta estudantes, prefeito e polícia vão dançar e cantar sorridentes. Muito inocente e fofinho vocês acharem que os estudantes deviam ficar na calçada balançando bandeiras e cantando de cara pintada e sem interromper as vias, apenas agitando os braços sem incomodar, como o fazem aqueles bonecos de posto de gasolina. Respeito opinião de vocês. Deve ser legal viver nesse mundinho à parte, chamando de vândalo, baderneiro, arruaceiro quem luta pelos direitos e briga com o Sistema, mas sinto informar que a vida é menos coloridinha e risonha. Não existe Revolução sem barulho, Mudança sem incômodo e muito menos Luta sem desordem. Saia da sua zona de conforto. Acorde pra vida. Não acredite em tudo o que lê do conforto de sua cadeira giroflex, na sua telinha de lcd. Vá pra rua. Veja e faça a sua opinião baseado nos seus próprios olhos.
Respeito seu direito à ter uma opinião, meu caro, mas reitero o convite pra que ela não seja superficial e baseada numa série de interesses alheios que desviam da realidade dos fatos.
A Luta é justa. Os métodos são válidos e a realidade do movimento não é aquilo que você vê de longe.
Incomoda? sim, muito! e deve incomodar! parar o trânsito, atrapalhar a ida e vinda de terceiros faz parte. Infelizmente não há como ser brando quando a questão é tão séria.
Restam duas opções: continue criticando o movimento, os "estudantes arruaceiros" do conforto de sua casa, do frescor do ar-condicionado de seu carro, alienado pela própria ignorância, pela própria falta de vontade de fazer alguma diferença no mundo, acorrentado pelo seu comodismo vergonhoso ou vá pra rua e veja com quantos gritos se faz uma mudança.
Nas palavras do Livro Vermelho:
"A revolução não é um convite para um jantar, a composição de uma obra literária, a pintura de um quadro ou a confecção de um bordado, ela não pode ser assim tão refinada, calma e delicada, tão branda, tão afável e cortês, comedida e generosa. A revolução é um insurreição, é um ato de violência pelo qual uma classe derruba a outra."
#contraoaumento
#contraaintegraçao















quarta-feira, dezembro 07, 2011

VAGABUNDOS ILUMINADOS - (Dharma Bums)


Tenho orgulho em dizer que meus maiores ídolos são negros, junkies ou gays. Pornógrafos desregrados, agitadores. Inimigos do bom-mocismo e do conformismo. Filósofos de alma selvagem, vagabundos iluminados. Deuses-poetas. Monstros divinos, que subverteram todas as regras, contrariaram todos os costumes e padrões. Gigantes que na sua maioria teve uma vida breve e cheia de excessos. Adeptos do amor-livre, defendiam a justa causa da liberdade de escolha. O amor/sexo em todas as suas manifestações. Sagrados Terroristas que sacudiam o mundo com suas músicas insanas ou com suas letras provocantes. Baderneiros por excelência. Histéricos Hipsters, que experimentaram de tudo, de todos. Que encontraram nas drogas artificiais assim como na embriaguez da vida a dinamite para explodir o mundo. A mão que estapeia o rosto dormente dos caretas.

“Meus heróis morreram de overdose”. Trafegaram todas as estradas do corpo até que se tornassem apenas mente: mens insana, corpus fragile. Vanguardistas da benzedrina, visionários. Xamãs dopados de peiote, whisky e LSD que enxergavam tão além do que as mentes mais simplórias jamais poderão calcular.

Quando ouço alguém dizer que não os conhece, ou pior ainda, que não passavam de “Maconheiros, sujos, vagabundos, bichas”, sinto pena. E a pena é o mais negro e desprezível sentimento que se pode ter por alguém. Sinto isso por uma simples razão: por saber que a repulsa que têm pelos Divinos Deuses Escrotos, nada mais é que uma negação de algo que se sabe no fundo de sua alma. Aquele verme da inquietação que sussurra nos sonhos e os faz acordar suados e rancorosos. A negação de que do alto de seus Manolo Blanic, embaixo de seus Armani, atrás de seus mestrados e doutorados, existe uma criancinha faminta mas assustada demais para perder a “doce inocência” e experimentar um pouco de vida. Existe um pedaço de carne com nome & sobrenome orgulhoso cuja passagem pela terra será apenas de deixar marcas de sapato em tapetes caros e uma ficha limpa. Escravos do Sistema. Existe ali uma inveja inconfessa dos que andam nus e sujos, com um sorriso satisfeito, os Vagabundos Iluminados. Mais cômodo e seguro é ficar na sua poltrona confortável de sua sala perfeita que abrir os olhos.

Mais difícil é reconhecer que os Vagabundos são merecedores de toda a glória que os rebeldes lhes pregam e, orgulhosamente mais ainda, do desprezo que os normalóides lhes tem. Há tantos nomes e tantas alcunhas: Jim Morrison, Jack Kerouac, Bukowski, Hakim Bey, Neal, Hendrix, Burrowghs, Thompson, Ginsberg, Joplin, Winehouse, Cobain, Baudelaire, Miller, Nin... nenhuma lista seria capaz de ser justa. Menos mal. A rebeldia é alguma coisa além de nomes. Ela prefere atos, desacatos, provocações, ainda que alguns títulos sejam o topo de seu panteão místico e efêmero.

Jim Morrison, o inquieto poeta que passou de menino tímido, aterrorizado com o palco à Lagarto-Rei. Ícone da banda mais estranha já criada, The Doors, que teve seu nome inspirado em um poema de William Blake citando Huxley: “Se as portas da percepção estiverem limpas, todas as coisas se apresentarão ao homem como são: infinitas”. E era essa a grande guerrilha de Jim. Quando subia ao palco sua performance louca, contorcida e totalmente instintiva, lembrava um índio possuído, dançando aos deuses de nome secreto. Morrison foi o Grande Xamã, poeta das inquietações da alma, da busca pelos excessos e do fim dos limites. Convidava às cerimônias profanas e caóticas que acordavam a alma e faziam o corpo suar. Instigava a depravação sem censuras: Libertem-se. Suas letras são como um passeio no Jardim das Delícias Terrenas. Um agitador de voz melosa que convocava aos Santos Maculados à uma experiência fabulosa. Agitador risonho, morreu em sua banheira de uma overdose de álcool e heroína. Um Profeta místico, cujo plano secreto era roubar a “inocência” dos corajosos. “It´s everybody in?”;

Jack Kerouac. O caronista bêbado de sandálias esquisitas. O delinqüente supremo das letras. Sofria de uma aguda inquietude da alma, doença séria e altamente contagiosa. Era frenético em tudo o que fazia. Quando botava o pé na estrada, alimentado de torta de maçã e sorvete & todo o álcool e drogas que encontrasse, perambulava agitado entre os mundos, contemplando a liberdade que só os Vagabundos mais Iluminados experimentam. Vivia tudo o que podia com uma fome louca e selvagem que jamais se saciava. Era um viciado na vida. Acompanhado de sua gangue, Neil, Allen, William e outros tantos, Jack revolucionou a literatura e chocou a sociedade. Seus livros eram relatos de suas aventuras loucas, e sua prosa rica de uma poesia crua e afiada, consequência de sua escrita frenética. Um maníaco que quando possuído pelo demônio das letras, escrevia frenética e ininterruptamente. Baderneiro e provocador, dava entrevistas bêbado, respondia às perguntas em Joual (dialeto francês de Quebec), italiano, espanhol, com um tom cínico e sarcástico. Deleitava-se com a inconveniência. Sua mente iluminada aterrorizava e encantava. Despertava – e hoje o faz ainda mais – a vontade de pegar a mochila, esquecer os preconceitos, a segurança e a responsabilidade mundana, e cair na estrada. Desbravar pelo coração das cidades, sua própria alma. Kerouac é o mais potente elixir alucinógeno da insurreição particular. Ao experimentá-lo, uma estranha conseqüência se manifestará e sem que perceba o usuário tomará para si a mística receita: “Não há nenhum lugar onde pudesse permanecer sem cair no tédio e também não há lugar algum pra ir senão todos os lugares.”;

Jimmy Hendrix, o Deus Negro da guitarra. Seus acordes ousados eram como tesouras a cortar os cordões dos homens-fantoche. Enquanto nos conservatórios se aprendia a tradição nas cordas, Jimmy fazia sua guitarra gritar em microfonia, frente à fabulosa geração dos Hippies no Woodstock. Incendiava seu instrumento e o despedaçava. A guitarra nada mais era que uma ponte, um caminho para sua mensagem: “Are you Experienced?”. Jimmy “beijava o céu” entre espelhos quebrados. Era como um Caronte negro, conduzindo aqueles que chegavam mortos em sua barca elétrica ao mundo inferior, ao inferno ardente. E não é o paraíso aquele que mais arde na alma? Herdeiro do Blues e do Jazz, Hendrix foi o precursor de uma estrada iluminada de escalas pentatônicas e bends. Um Xamã, tal qual Jim Morrison, agitando almas através dos ouvidos. Vestiu uniforme e ganhou os céus como paraquedista da 101st Airborne Division, e anos mais tarde gritou ao mundo pelo fim da guerra do Vietnã. Tocava com as mãos, os dentes... nas costas. Seu corpo era todo música e sua alma, baderna. Morreu sufocado no próprio vômito. A quantidade de vinho encontrada em seu corpo impressionou os legistas. Eu digo: morreu embebido na própria falta de limites, como um espartano em Termópilas, eternamente lembrado e risonhamente satisfeito. Profetizara anos antes: “Sou o cara que terá de morrer quando chegar minha hora, então me deixem viver minha vida da forma que eu quiser”;

Allen Ginsberg, poeta-anarquista, rebelde romântico. O Santo Veado. Escondia atrás de sua barba farta e seus óculos fundo-de-garrafa um gênio sublime que fascinava a quem contemplasse suas letras. Seu poema Howl (uivo) é uma das mais apaixonantes odes à geração Beat, à insurreição poética e ébria de uma época e aos seus companheiros, os outros deuses loucos do panteão. Foi autor do mais vendido livro de poesias da história da América. Homosexual, teve colhões pra assumir seus amores e desejos, inclusive em fotos, onde posava abraçado nu com seus amantes no ápice da política Macarthista. Usuário de LSD, ativista dos direitos humanos, Zen-budista. Junto de Kerouac e Burroughs, revolucionou a linguagem literária da segunda metade do século XX. Guru da rebelião e terrorista da contracultura, Ginsberg foi um dos grandes agitadores, que gritava aos ouvidos adormecidos do mundo, estagnados na normalidade, nos padrões e no conformismo. Inquestionavelmente foi o Anjo psicótico e nu, cuja luz fabulosa ilumina as mentes inquietas até hoje.

E quanto a você, amigo de nariz torcido, de alma acorrentada e mente arenosa, é provável que continue assim, limitado pela sua própria cegueira ignorante. Pela sua concepção patética da vida. Tenho pena. Sei que viverá uma vida insossa, cheia de regras e normas de conduta. Nunca sentirá sua consciência transportada à um paraíso, seja artificial ou literal, literário. Provavelmente nunca experimentará a aventura do conflito, a coragem libertadora do questionamento e o grito que faz tremer a alma. Chegará ao fim dos seus dias, com a falsa sensação de ter vivido. De que a tranqüilidade de seus anos e a comodidade de seus dias valeram à pena, ainda que saiba no fundo da alma que a mediocridade de suas escolhas somente lhe renderá a insatisfação. O esquecimento será sua herança. Pobre de ti, abastado amigo, que em uma existência invisível e longa, não conseguiu compreender que o tesouro sagrado só é alcançado pelos Vagabundos de alma nobre, os Iluminados pela poesia e pelas incertezas. Os livres de preconceitos sexuais, sociais e étnicos. Os que partem cedo do casulo da carne, e ainda assim deixam aos olhos sem vendas, o mapa místico da verdade, coisa que em vinte vidas você não descobrirá, ainda que esteja aí pichado na sua frente. Tenha uma vida longa, tranqüila e próspera. Certifique-se de ter trancado as portas, abaixado as vistas e levantado a tampa. A arte-Sabotagem passará longe de ti, ela odeia os fracos de espírito, os covardes, os nomais. À ela, como bem disse Kerouac, “só interessam os loucos, os que estão loucos para viver, para falar, que querem tudo ao mesmo tempo, aqueles que nunca bocejam ou falam chavões...mas queimam, queimam, queimam como fogos de artifício pela noite”.

Dedicado aos espíritos livres, agitadores e baderneiros. Aos Sonhadores que têm orgulho da nudez e de serem chamados de rebeldes. Serpentes de trejeitos felinos. Reis Invisíveis do mundo que desperta quando os olhos se fecham, que jamais ficarão sentados na ilha de seu próprio umbigo enquanto a noite grita.










quinta-feira, dezembro 01, 2011

Despertar


Existe algo de miraculoso e sagrado nas grandes forças da natureza. Ninguém lembra das benfeitorias tão bem quanto dos estragos. Uma Usina Nuclear derretendo, uma enxurrada levando ratos e velhas beatas esgoto abaixo, o chão engolindo criancinhas e estátuas.

Há também os eventos silenciosos. Eles acontecem sorrateiros, em um plano de existência que por vezes contagia à uns tantos, mas é percebido por poucos e provavelmente ninguém compreenderá o contexto geral. É exatamente essa a ideia. É uma espécie de Revolução e Sexo – toda orgia é uma guerra – que acontece quando grandes forças da natureza que se encontram adormecidas, terminam por se misturar. O Despertar de ambos poderia sacudir trópicos, deslocar o eixo da terra ou mesmo rasgar páginas e páginas de poemas tolos.

É algo entre um furacão e um terremoto. Um mini-cataclisma que inicia com um tremor e logo se transforma em estrondo e gritos de pânico. O mais estranho é que a sensação lembra a de um gozo, porém nem de longe tão melancólica ou instantânea. É uma espécie de dança Xamânica com Big Bang e alguma dose de sadomasoquismo. Um sentimento de queimação e formigamento que em segundos se transforma em euforia e incêndio.

A alma grita e ri como a gargalhada de uma profetiza louca, uma velha cigana cantando na chuva. Um incesto – sim, todas as tormentas tempestuosas são da mesma família estranha – sórdido, vagabundo... iluminado! Um uivo degenerado e insano que faria os mais apressados vanguardistas sentirem vergonha (leia-se Inveja)!

Imagine o encontro da pólvora com a chama, mas com uma sensação de se lamber uma nuvem temperada por relâmpagos. Um misto de luz, metanfetamina e incenso, com a cor daquelas manhãs douradas e também do céu tempestuoso de dezembro.

Gnóstico e anarquista.

Eles riem dos que ainda andam para frente: Coitados, tão apegados à segurança de seus sapatos lustrosos que esqueceram dos atalhos, dos caminhos incertos, pedregosos e cheios de curvas. Eles riem histéricos. Esqueceram como andar para frente. Suas aventuras são inquietas demais para o caminho. Terremoto et Furacão, mas com o beneficio da clandestinidade, o silêncio ensurdecedor do anarquismo das causas banais: Abaixo à Monarquia Monocromática das Certezas. A vida precisa de mais cor, mais caos, mais incertezas, mais sonhos.

Que o mundo seja engolido pela loucura apocalíptica deles.

Terremoto et Furacão, destrua a estrada amarela. Nada sobre da velha casa, nenhuma construção sobre alicerces. O teto são as estrelas, o caminho ilimitado. Tudo o que restará são marcas de gozo e o cheiro vermelho de sexo, além de uma vida de convicções abaladas.

Insurreição e Volúpia!

E na dança das ampulhetas atômicas, uma coisa é certa: Quando se fala sobre forças da natureza, a imprevisibilidade de seu sono é perturbadora!

sexta-feira, setembro 02, 2011

Desculpem-nos o transtorno...



[Av. Frei Serafim]


Somos de uma geração de frustrados. Sim, frustrados. Nascemos - e tomo aqui meus 29 anos como referência - em uma era democrática. No papel ao menos.

Lembro da minha infância quando ouvia com paixão as histórias dos que sofreram a ditadura militar. Dos que militaram com bravura em tempos de longe mais difíceis, onde a panfletagem marginal e a guerrilha eram as estratégias. Haviam poucas câmeras, fotográficas ou filmadoras, e a então Rede Social era feita no boca-à-boca. Naqueles anos, ser um rebelde era uma tarefa árdua e somente os verdadeiros apaixonados seguiam firmes em sua luta.

Lembro do início da adolescência, quando assistia pela TV os “Caras-Pintadas”, que pouco à pouco chegaram à avenida e logo engrossaram as fileiras, provando uma vez mais a força do povo, derrubaram um presidente. Foi lindo, ainda que recentemente o mesmo tirano de sorriso amarelo e jeito fanfarrão tenha voltado a ocupar um lugar de poder. Falha da nossa memória, por demais curta.

Lembro com sorrisos nostálgicos do início da minha vida acadêmica, quando recém egresso no Curso de História da UFPI, me apaixonava pelos grandes mártires das Revoluções Históricas de séculos atrás.

Lembro de pouco tempo depois, quando conheci nomes que me marcariam mais ainda como Bob Dylan, Hakin Bey, Bansky, Nietzsche. Tantos outros. Uns já conhecia, mas não de verdade, daquele jeito de sentar à mesa pra um café e duas xícaras de ideais revolucionários brotarem do peito.

Muitos dos que já leram meus textos, provavelmente perceberam que boa parte do que escrevi é uma espécie de manifesto rebelde. Das causas banais, principalmente. Lembro de ter vivido com um sentimento agudo de frustração, que me corroeu silenciosamente – às vezes nem tanto – e escorria em forma de letras, vez ou outra. Frustração de não ter uma causa, uma luta, uma Guerrilha. Mas Causas temos de sobra e Ação nos falta por demais. Minha maior frustração é ter sido um acomodado confesso. Esperava com aquela visão poética o dia em que as massas iriam às ruas e os protestos ganhariam corpo. O dia não chegou e o rebelde em mim juntou malas e fugiu. Foi buscar um tanto de insurreição em outros terrenos mais imaginários e menos pacíficos. O preço da vida adulta.

Tudo mudou. Uma força inimaginável assumiu o poder. A tão sonhada Democracia, vestiu nova roupa, ganhou novo contexto e em sua linguagem pós pós-moderna, recebeu um novo nome: Redes Sociais. Centenas de milhares de mentes, vozes e idéias se conectando, articulando, organizando... tudo em tempo real. Em modo virtual.

O que parece um contra senso, na verdade chamo de evolução. Se antes os rebeldes se valiam de códigos secretos, mensagens encriptadas e afins, hoje tudo é feito às vistas do mundo. O modo quase perfeito da rebeldia. Quase. Como todas as grandes idéias dos homens, também pode ser corrompida pro uso mal-intencionado.

Hoje acordamos pra um novo momento. Na melhor das hipóteses, somos precursores ativos – ou não – de uma nova forma de luta. Uma nova estratégia de batalha, que se afirma e justifica nas ruas, mas que nasce, ganha seu poder e se transforma no mundo digital. Na pós pós-modernidade, as lutas se dão com exércitos de “zeros e uns”, que quando fora do conforto de suas cadeiras giratórias e telas de LCD, são “uns mais uns” mais tantos.

Quando tive a notícia, estava à quase mil quilômetros de casa. Confesso que minha primeira reação foi a descrença. Mea Culpa. Cheguei. No penúltimo dia dos protestos, como quem chega à praia no dia D, aos trancos e barrancos, mas cheguei.

Aos que acompanharam os noticiários e/ou vivenciaram, sabem que Teresina mergulhou em dias difíceis. A mão pesada da ganância favorecida e legalizada atacou uma vez mais e com seus dedos esguios mergulhou descaradamente em nossos bolsos. Eis que aí o grande trunfo, a mais afiada das armas e perigosa das guerrilheiras gritou: A Opinião Popular. Uma Revolução que começou engatinhando como uma brincadeira quase sem autoconfiança, se transformou em um dos grandes marcos da história local. A multidão de Caras-Pintadas digitais tomou as ruas, queimou pneus, fechou lojas, parou veículos, arrastou transeuntes pra sua luta e mudou o curso do que já era tradição: o aumento desmedido das passagens do transporte público.

Cinco, dez, vinte mil. Quem sabe? No quarto dia de protestos, a peregrinação percorreu as principais avenidas, parando ônibus e outros veículos, arrastando mais e mais manifestantes. Vi adolescentes pichando ônibus e paredes, policiais recuando assustados com medo do povo, gritos inflamados e milhares de incansáveis guerrilheiros sob um sol escaldante, marchando com um sorriso assustador. Era de meter medo, e deveria. É o Estado que deve temer seu povo, nunca o inverso.

Senti uma inveja dos colegas que estavam no início de tudo, dos que receberam spray de pimenta no rosto, dos que caíram correndo da cavalaria, dos mártires sem nome, que passaram despercebidos. Mas fui! Levei minha arma mais perigosa, aquela de tiro certeiro, que “Mata Fascistas” (três salves á Woody Guthrie) e guarda pros olhos o que a mente não esquece: Minha câmera fotográfica. Minha fiel parceira com quem dividi os tantos quilômetros de caminhada e correria. Que me rendeu uma parte da capa de um grande jornal local hoje, que paga meu sustento. Gritei com cliques, protestei com poses. Minha pequena, quase nenhuma contribuição, foi estar lá e guardar não apenas na memória, mas em dados - digitais, assim como o estopim da guerrilha – pequenas frações da história, que ainda que não chegue aos livros, vai ser por muitos anos e para tantos não apenas uma história à contar, mas um sossego à alma dos insurgentes pós pós-modernos.

Não me pergunte se sinto pena dos grandes, que tiveram seus preciosos ônibus incendiados, destruídos. Revoluções não são feitas com afagos, mas com músicas de protesto e suor. Com sangue e fogo. Que eles saibam que seus veículos nos são ainda mais preciosos. Dependemos deles pra trabalhar, estudar, amar. O pecado maior não foi de quem gritou, mas de quem silenciou. Que sirva de lição, e uma lição mútua!

Aos verdadeiros heróis, o meu agradecimento banal é simples: Sonhem. Sonhos moldam o mundo e dão Cor à vida. Seja ela flamejante e negra, tomando o céu, seja ela verde e amarela, tomando os rostos, seja ela azul, na assinatura de um documento.


Desculpem-nos o transtorno, mas não há revolução sem barulho.

#VITORIADOPOVOTHE




[Av. Maranhão - Manifestantes param o trânsito]





[Av. João XXIII - Manifestantes ateiam fogo à um ônibus]




[Av. João XXIII - Manifestantes assistem às chamas e fumaça tomarem os céus]





[Ponte Isidoro França - Manifestantes marcham sobre a ponte rumo ao centro da cidade]




[Praça da Liberdade 5º e último dia de protesto - Estudantes comemoram a vitória]






sábado, outubro 30, 2010

Partidas e amanhãs tardios





As paredes do cômodo eram feitas de livros velhos e fotografias desgastadas. Uma luz parca teimava em invadir as frestas da janela de vidro fosco, empoeirado e confuso como sua própria vida. Não era uma manhã tão diferente das outras, salvo pelo majestoso azul do céu ter sido trocado por um cinza duvidoso, aquele de dias nublados onde sonho e domingo se misturam.

Não descia ali fazia tempo. A guerrilha precisava de descanso ainda que o desejo constante fosse de grito. Nos últimos meses havia se tornado mais espectador de sua vida que uma alma inquieta suportava, mas mesmo as bombas precisam de dias de silêncio.

O problema do sossego é o costume. Ele se instala devagar adormecendo o corpo e entorpecendo a mente, e quando menos se espera o coração ganha um ritmo de tique-taque e as pernas entram no compasso de um passeio de fim de tarde.

Mas como bom inquieto, resolvera sair do conforto e outra vez assumir seu posto. Transitava pelo recinto admirando suas histórias e armas, relembrando dias passados quando o mundo era deliciosamente mais complicado. Uma velha foto com Kerouac, em uma noitada qualquer em São Francisco; Nietzsche em uma mesa de bar sem metade do bigode – ganhar aquela aposta me valeu o dia, pensou - Hakin bay, Baudelaire, Che e Bauman discutindo modelos de governo em um inferninho da zona baixa de Paris... todas fotos feitas na velha Dragonflex, a devoradora de instantes.

Debaixo de uma lona desbotada, uma caixa de madeira com apliques em silk de Pop Art. Guardava ali seus acessórios favoritos, ferramentas e fetiches. Páginas em branco e traquitanas sem uma utilidade aparente. Um desenho de Camões com seu tapa-olhos – todo bom pirata precisa de um. Poetas, igualmente – estruturas de sílica e uma placa de bronze esperando inscrição.

Sem dar tempo ao seu próprio bom senso, começou a encher a mochila verde com seu maquinário duvidoso. A rebeldia era uma poesia supersticiosa. Devia ser feita rápida e sem muito cálculo ou os sapatos do convencional teimariam em não dar lugar ao All Star do vandalismo romântico. A arte sabotagem não pode perder tempo com o esmero do planejamento sob pena de se tornar estratégia mecânica. Brota do desassossego imediato que quanto mais inconveniente, mais se grava nas histórias secretas das pequenas lutas contra os grandes ditadores. E o conformismo é o pior dos tiranos.

Não mais que dez minutos e já estava na estrada. Bob Dylan e Jim Morrison cantavam a partida breve, antes que o sol voltasse. Outra vez caçaria fascistas do comodismo, daria nomes falsos, provocaria desordem e a arte sabotagem silenciosa, sem esquecer da regra de ouro: Nunca seja pego.



quarta-feira, junho 23, 2010

NORTE MAGNÉTICO


Acordou com aquela estranha sensação de ausência. Não sabia exatamente o que, mas algo estava faltando. Revirou as cobertas, olhou embaixo da cama. No banheiro, na cozinha, no quintal... nada. Continuava a peregrinação em cada cômodo, gaveta e caixa, sem sinal do que buscava. A certeza de que algo está errado é como um silêncio constrangedor, um comichão que começa atrás do pescoço e se alonga imaginação à dentro.

Sentou na velha poltrona de couro batido e começou a revirar CDs. Talvez fosse uma canção que lhe faltasse, ou um filme... não. Também não era isso. Deu outra volta pela casa, foi aos armários da cozinha, o microondas com cheiro de pipoca e até à geladeira com uma lasanha à espera do almoço. Parou diante do balcão e olhou pela janela. Viu o balanço brincando com o vento no sol afetuoso da manhã. Deu um sorriso e com passadas bem marcadas chegou à sala, deitando pesadamente no divã com um suspiro entrecortado. Aquela dúvida incoerente se dissipara, e com um olhar para a mesa de centro percebeu que sua bússola da sorte também sumira. A alucinação que o acompanhava havia partido, mas ao menos tinha levado a bússola consigo. É sempre bom saber o caminho.

Há dias em que o delírio voluntário nos abandona e os dias são um tanto menos surreais.

Outros nem tanto.

quarta-feira, abril 21, 2010

Dr. MORTE



[Imagem retirada da internet]

Vivia da morte alheia. Simples assim. Seu ganha-pão era baseado na arte de coser, reestruturar, forrar e maquiar defuntos. Quanto mais trágica, mutilante e violenta, maior o benefício de seus bolsos. Não que fosse um explorador, longe disso, mas sua arte não era barata.

Algodão silvestre, papel francês da gramatura ideal e serragem de pinho virgem para o recheio. Base, sombra, blush e delineador importados para a cobertura. Nenhuma mulher era tão caprichosa e detalhista no uso dos cosméticos quanto ele.

O fato é que sentia prazer naquilo. Gostava de se debruçar sobre corpos rasgados e feridos, despidos de suas vestes e pudores. Sobre sua mesa metálica e fria todos os orgulhos se esvaem.

Quando seu pincel-navalha trabalhava nacos de carne, sentia uma satisfação de escultor grego, de pintor europeu. Imaginava-se um Rembrandt, um Da Vinci, um Michellangelo em uma versão necrótica, retratando uma lembrança residual qualquer de vida em um pedaço morto que um dia teve um nome. Sim, já teve. Pra ele era um cliente, não o Sr. Antonio, o Sr. João, Dona Tereza. Não podia se dar ao luxo do apego e chamá-los pelo nome. Preferia pensá-los como uma obra encomendada de sua galeria sóbria e seu trabalho uma vernissage incomum. Trabalhava-os como um bloco de mármore cuja beleza aguarda a carícia do cinzel e do martelo para vir à tona.

O que a maioria das pessoas não entendia era que seu trabalho não consistia apenas de vender o corpo reformado de alguém, mas também uma lembrança. Uma memória de suas feições em vida. Sua satisfação vinha dos olhos chorosos que inclinavam-se sobre os caixões sem partilhar do horror da morte barulhenta e suja. O resultado de sua arte era um suave aroma amadeirado e uma pele com os tons de um sono da tarde.

Era assim que ganhava a vida e aproveitava seus dias. "Carpe Diem. Carpe Mortem". Um “amigo” que visita quando um amado se vai. Um tanto alfaiate, artista e açougueiro, trajando ternos bem passados, esguio como um lamento, como sorriso escondido por uma volumosa e bem cuidada barba negra e um frio aperto de mão. Sua presença era precedida sempre pelas batidas de seus sapatos de sola de madeira e pelo cheiro estranhamente agradável de morte e hortelã.

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[Na foto acima, de autoria desconhecida, Gunther Von Hagens, criador da Body Worlds, exposição de arte cujo objeto são corpos humanos plastificados e também é chamado de Dr. Morte. Ele não foi o que me inspirou pra escrever o texto acima, apenas achei conveniente constar essa informação]




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