segunda-feira, maio 29, 2006

A balada do homem inclinado - Parte I


O homem inclinado sempre fora daquele jeito.Quando nasceu, todos pensavam ser ele um gancho [ou alguma outra coisa que não um alguém].Quando criança, todos na sala caçoavam dele, pelo andar esquisito e por sempre estar olhando praquele outro lado que ninguem mais vê. Olhar inclinado para a realidade adjacente...Na adolescência, seu "defeito" ganhou ainda mais evidência. Havia praticamente cortado todo tipo de contato com pessoas "retas" e cada dia se recolhia mais naquele mundo que ficava na curva diagonal à esquerda. Os personagens inclinados costumavam ser companias bem mais interessantes, quando se é torto...Logo após aquele período de confusão que acompanha a tenra idade, veio se assentar o peso das responsabilidades juvenis. Arcava com todas mas do seu jeito. Seu corpo às vezes tinha de virar à direita mas a imaginação seguia por onde queria. Nunca ia com os outros...
De tanto andar naquele lado entre os espaços, terminaria por desligar-se inteiro daquele mundo normalóide de pessoas desinclinadas. Andaria com a cabeça de lado e as idéias tortas atravessadas: Viveria no seu mundo imaginário junto da boneca de labios vermelhos, que era outra moradora daquele mundo-entre-mundos...

[continua...]

..................................

O sr. tic-tac tem me devorado mais do que devia e ando em falta com os olhos dos ilustres seres que povoam o mundinho de zeros e uns. Do meio do front, resta dizer: ainda respiro! ainda sonho! e, mais do nunca, ainda sorrio!

..................................

[www.fotolog.com/cafeinaman]



..................................

[and you know that i´m here for you. always. for every thing. amo ]


o.

[para minha surpresa, no mesmo dia em que comecei a escrever esse texto vi uma pesquisa no jornal que revelou que cerca de 70 % das pessoas têm a postura inclinada para a direita]

segunda-feira, maio 22, 2006

mais tarde... mais tarde...

Se o crocodilo-tic-tac deixar, o sr coelho apressado de pés estrelados volta mais tarde pra diluir um pouco a realidade em forma de letras.

[suspiro]


ps: só você pra transformar meus fins de semana de cama e enxaqueca em felicidade colorida e açucarada.
amo.

domingo, maio 14, 2006

A senhora de imaginação acinzentada

O Ponto Duplo destoante, era filho da inconsistencia com o herói do mundo rodoviário. Desde cedo havia perdido o lado caqui, e portanto teve de assumir como pai-mãe a doce mulher que tinha o dom de trasformar qualquer coisa em guloseimas deliciosas [e os quilos a mais eram seus inimigos, ficavam bem longe dele].
A linda senhora tinha uma vida dura, mas um dos seus superpoderes era a capacidade de equilibrar abacaxis e dar cambalhotas triplas apoiada nos dedinhos dos pés sem perder o sorriso. Adivinhe de quem ele herdou o dom dos malabares...
Mais uma vez era um dos 365 dias anuais dela, e alguns quilômetros os separavam, mas seus orbitais eram ligados pela alma e mesmo sem ele poder dar um gostoso abraço apertado pelo quarto ano consecutivo, ela sabia bem que o conjurador de sonhos parido de seu ventre seria eternamente grato por tudo, e devia uma reticente soma imaginária. Impagável.
[Porque minha mãe tem superpoderes e hoje eu queria muito dar um abraço nela]

quarta-feira, maio 03, 2006

Apanhador de Sonhos

Ele era um colecionador.
Colecionava cores, delírios, incertezas, histórias, memórias, sorrisos e uma longa lista de coisas.
Entre seus itens de coleção favoritos, estavam os sonhos.
Catava sonhos de forma compulsiva. Listava e engavetava uns, soltava pela casa outros. Era divertido vê-los pululando pelos corredores.
Há muito tempo perdera a noção da quantidade de itens existentes ali mas a cada momento queria mais...
Os sonhos, que são criaturas totalmente imprevisíveis e portanto muito difíceis de se capturar, requerem um método apurado para a coleta e iscas especiais.
Usava iscas de açúcar pra pegar aqueles sonhos sorridentes; manhãs chuvosas e camas quentinhas para os dengosos; e para os suspirantes, beijos imaginários.
Para aqueles sonhos mais raros, únicos, usava palavras. Enfileirava elas de forma insana, regando com pretensões de poesia. Desconstuía em letras.
Atraia esse devagarinho, com cuidado para não assustá-lo. Enfeitava o caminho com pés de jujuba e sorrisos brilhantes pra que ele definitivamente não quisesse fugir.
Esse em particular não seria catalogado, muito menos engavetado, nem deixado solto pela casa. Não mesmo. Para esse havia pintado uma casinha bem colorida, com música alegre e cadeiras feitas de sonhos-bobos. Tudo bem construído no jardim de sua alma.
O colecionador cuidava bem de suas peças, e até aprendera com o pesadelo de oito patas a tecer um fio delicado, onde acrescentava miçangas colhidas de seus suspiros e longas penas de suas asas, pra fazer um belo filtro de sonhos gigante, e deixar os sonhos feios e sem cor bem longe, para que nunca chegassem perto do sagrado paraíso de seu mundo imaginário.
O apanhador de sonhos andava bem feliz com a última peça encontrada, a que faltava para a sua coleção, e já estava bem guardada em sua alma e vez ou outra brincava de escapulir pelo seu sorriso ou suas histórias

segunda-feira, maio 01, 2006

livros em chamas.

Às vezes acordava com aquele desconforto poético. Uma fagulha revoltada que inflamava dentro de si.
Era uma irritante necessidade de revolução, de enfrentar com marcha dura, aos brados fortes e irados a massa de normalóides fardados.
Era de fato um desconforto poético, literário, artístico...
Costumava se flagrar imaginando aquele cenário em chamas; ele com um lenço vermelho cobrindo o rosto e nas mãos livros pra atirar, verdadeiros cocktails molotov de desconstrução. Os lábios parindo aos gritos poesia, contra os assustadores gritos linearidade e moralismo cortando o ar.
Em seu mundo imaginário, plantava contos e colhia irrealidades. Lutava a guerra silenciosa no país da contra-cultura.
Às vezes ia dormir de mau-humor.