quinta-feira, agosto 07, 2008

ESTÁTUA SERÁ SEU NOME?




“Nada mais são do que fórmulas. Problemática incerta tratada com decisões frágeis e goles ébrios, frutos de uma árvore imaginária de flores estranhas escondidas entre suas folhas e dorminhocos em sua sombra. Fórmulas falhas de dias covardes e madrugadas ousadas donde nasceram sonhos e amanhãs pouco menos que fictícios. No hoje dorme a inamovabilidade e a observação masoquista de como as coisas acontecem ou deixam de acontecer.
E como às vezes não há nada a se fazer...”
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Fragmento de uma coisa antiga que resolvi retomar. Aguardem.
[texto, foto e cara de tacho: Regis, o infame e pretensioso colecionador de desocupações]

sábado, agosto 02, 2008

O HOMEM QUE OBSERVA


Há um homem sentado na sobmra de uma grande árvore cinza. Ele está lá sem parecer estar. Sob a longa aba do chapéu que lhe cobre quase todo o rosto, ele observa. Observa como se na verdade estivesse apenas sonhando ou quem sabe visse em um lugar diferente de seus olhos.

Ele vê as duas nascentes mananciais percorrerem um longo caminho até se encontrarem, transformando-se em um único rio. Suas águas antes diferentes, agora têm a mesma cor. Um só rio, que sinuoso e leve escorre entre os mundos...
Ele vê algo que não consegue definir se são borboletas ou pequenas fadas fugitivas da cidade do crepúsculo na 13ª hora. Elas dançam diante de seus olhos. Seus pés não tocam o chão e sua música animada parece brotar das folhas e se diluir no vento.
Ele vê a grande marcha de homens solitários que segue seu caminho silencioso. Cada um com uma túnica de cor particular, e na mão uma lanterna. Um é todos e todos são um. Conscientemente, eles nunca se conheceram.
Ao seu lado, repousam duas pedras: uma preta e outra branca, tal qual dois pares de asas daquelas estranhas aves que voam harmonicamente, trazendo o amanhecer.
Ele vê uma loira e sorridente criança brincar. Há flores em seus pés e um enorme sol a ilumina. O sol lentamente evapora a água dos dois-rios-em-um, fazendo-a subir em forma de vapor e nuvens gorduchas de chuva vindoura.
O homem sentado ri, enquanto entende – quem sabe pela primeira vez? – entende como tudo se conecta. Tudo funciona como um grande mecanismo. Um grande arranjo de engrenagens feitas de coisas, lugares, pessoas e animais. Pequenas porções do mesmo fluxo, que girando no mesmo sentido ou no oposto, convergem para o mesmo ponto. O Ponto Zero. A Matriz Universal de onde tudo parte e depois retorna, tal qual a chuva que desliza suave escorrendo para a nascente do manancial e recomeça todo o ciclo. No ápice de sua individualidade, Todos são também Um.
Em sua bolsa, há também uma lanterna, tal qual a dos homens encapuzados. Teria andado pelos mesmos caminhos que eles ou sua hora ainda viria? Quem sabe... outra vez? Havia também uma corda, que em momentos distintos já prendera cada um de seus pés. Em seus bolsos, o Ouro, a Mirra e o Incenso.
Bebendo o líquido doce de sua taça, ele fecha os grandes botões de ouro de seu manto, ajeita a espada em sua cintura e recolhe seu cajado. Sob a aba de seu chapéu infinito, ele observa a noite chegar no brilho da grande estrela. Onde antes era o sol, agora sentava a lua com seu véu a ocultar suas intenções. O homem ri satisfeito em sua contemplação, enquanto em um ato quase imperceptível, sua mão desliza pelo cajado e os dedos chegam ao topo, apontando para o céu, tal qual sua outra mão sobre o alforge aponta o chão. Era hora de voltar à estrada. Para ele, a noite era clara e lanternas não eram necessárias.
Quem sabe em seu caminho, no meio desse grande fluxo, também parasse para dançar à beira do abismo, mas agora ele andava com firmes passos ouvindo o guizo das 32 contas do colar em seu pescoço.