terça-feira, agosto 15, 2006

O HOMEM QUE ESTAVA LÁ

Ele sempre esteve lá. Havia partido alguns anos antes, mas apesar da longa viagem que resolveu fazer, sempre permaneceu ali perto.
De todas aquelas situações em que deveria, estava lá sentado, olhando com aquele meio-sorriso e as fortes rugas de expressão na testa franzida.
Quando a primeira vez, fui correndo contar, com aquele brilho no olhar de adolescente descobrindo o mundo. No primeiro cigarro, mesmo com um certo descontentamento, surgia do meio da fumaça azulada (como poderia reprimir, sende ele mesmo um habitante daquele mundo-que-se esvai?). Aquelas madrugadas insônia, quando as páginas decoravam os olhos, estava lá com aquele olhar severo e suas frases peculiares de "-é inadmissível". Quando a dança das palavras deu resultado e os cabelos viraram farra no chão, deu aquele abraço firme, como um urso gigante. E todas as lágrimas também foram divididas.
Em todas as decisões, das mais banais às revoluções, sempre ouvia e dava sua opinião em nossos diálogos imaginários.
Sempre soube o que dizer, ficando em silêncio.
Tudo poderia ter sido bem diferente. Sempre pode ser, mas o fato de você ter ido patrulhar em outras rodovias não o tornou ausente. Nunca tornará. Sempre vai estar ali com aquela expressão incerta, sorriso apertado e olhos miúdos vermelhos. Gotinhas de suor na testa...
O cheiro de rosas sempre me deixa triste, carrinhos em miniatura me fazem pensar em "rally na barriga" e fardas caqui me lembram sorrisos. Não há um dia em que passe sem visita sua.
Super-heróis Nunca morrem.
[post de dia dos pais em atraso.]

domingo, agosto 06, 2006


"Tranquilamente acendeu um cigarro, abriu a porta e saiu correndo na chuva, gritando como se o mundo fosse explodir. Deixou tudo atrás de si, chaves, pasta de trabalho, cartões de crédito e vida pública.
Às vezes perder o controle era providencial para manter a sanidade."

[imagem: google+photoshop+vontade de gritar]

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"Foi buscar aquele potinho bem guardado, escondido entre as camisas de outros ontens no fundo da gaveta. Entre o cheiro de mofo e sonhos engavetados, retirou o vidro ainda intacto. Na tampa uma etiqueta com o desenho de uma porta e escrito em letras de forma: "I'M A KING BEE".
Bem propício para momentos de felicidade esperada e comemorações particulares.
Sorria baixinho..."

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Getting late, I just can't wait
Ten o'clock and I know I gotta' hit the road
First I drink, then I smoke
Start the car and I try to make the midnight show
Get up!
Everybody's gonna' move their feet
Get down!
Everybody's gonna' leave their seat
You gotta' lose your mind in Detroit Rock City
[KISS - Detroit Rock city - ou música pra se ouvir correndo]
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www.fotolog.com/cafeinaman

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[Everything it´s always for you, Mrs. Hobinson... Amo]

sexta-feira, julho 21, 2006

Dias Consumidos

Foi acometido por aquela insanidade típica de finais de semana atribulados. De uma hora pra outra, já era sexta feira. O que teria acontecido com a quinta, quarta e todos mais??.
Devia ser uma daquelas viroses novas que ataca o centro nervoso tornando mais longos os dias e mais curtas as semanas. Quando menos se esperasse, dias inteiros teriam sumido e a semana só teria cinco dias. Que pelo menos o domingo fosse poupado (ou aqueles 5 minutos após o almoço, para tomar um café num copinho de plástico e fumar um cigarro sob o sol aterrador.).
O mundo não era o mesmo depois do toque do despertador.
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[Não vou dar explicações para a ausência contínua, além do fato das palavras serem criaturas estranhas e tímidas em certos tempos: saem quando bem querem.]
[www.fotolog.com/cafeinaman]

segunda-feira, julho 10, 2006

suspiro perdido e apressado.

Aquela maneira corrida de andar, somada à forma como olhava com olhos de quem vê tudo-ao-mesmo-tempo-agora, era um terrível contraste com o jeito manso de falar.
Passadas longas e silenciosas, parecia cruzar sempre obstáculos imaginários e disputar uma maratona invisível.
Andava com a cabeça longe e o sorriso guardado para telefonemas inesperados [e os esperados também, porque até as surpresas sabidas tem gosto de jujuba]. De tanto correr com aqueles envelopes amarelos pra um lado e outro, terminava ficando longe das palavras adestradas do mundo de zeros e uns, suas e alheias. Passeava sempre, mas falava nada. Ninguém podia recriminá-lo por ser estranho...
Hoje por acaso, escapuliu da zona esburacada do front pra dar um suspiro corrido e dizer pros olhos curiosos: "- estou sonhando mais do nunca" ainda que completasse secretamente com "- e dormindo menos ainda".
Deixava guardada uma promessa de novas palavras enfileiradas muito em breve [ou não...], e pra cobrir o buraco dos dias sem letras, recorria ao baú perdido, onde as coisas já ditas fazem festa.

"SALTOS QUÂNTICOS

Pulou tão alto que bateu a cabeça na estrela.
Ela explodiu em pó cintilante. Uma aquarela de intermináveis desejos.
Misturavam-se os sonhos e os pedaços da estrela...
O engraçado, é que de tão teimoso que era, mesmo com um galo na cabeça e os desejos espalhados, daria outro pulo."
[publicado originalmente no meu primeiro fotolog, um dia desses na vida.]
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[feliz dia.amo.amo...]

sexta-feira, junho 23, 2006

Onironauta



O primeiro sinal foi aquele olhar perdido. Aquela expressão de quem não tem os olhos e a imaginação no mesmo lugar que o resto. Logo que começou a andar veio o segundo sinal: os pés trocados. Vivia aos tropeços e tombos.
Com os anos se acumulando em páginas tortas de um conto estranho, iam aparecendo todas aquelas marcas imaginárias de uma vida entre-mundos. O deleite de perambular entre [ir]realidades enquanto enganava a todos com aquele discurso de racional-cético-normalóide, enquanto se divertia sozinho com as faces chocadas dos normalóides em tempo integral.
Agora que boa parte de seu castelo de sonhos com paredes de guloseimas e jardins de jujubas já estava com a construção bem adiantada, escolhia cuidadosamente cada membro de sua corte. Já tinha sua rainha-fada-interrogasonho-de-bico-inclinado, que solta borboletas histéricas pelo umbigo e rouba sua alma com o olhar; a família real, que possuía superpoderes bem especiais e era dos mais importantes pilares daquele lugar; as músicas para dias de festa; toda a sorte de personagens inventados, fugitivos de seus delírios tortos e finalmente um exército de letras enfileiradas, pra mostrar aos contrassonhosassíduos, raça desprezível e cinza, que o Povo Inclinado ainda Sonha.
E tinha ainda aquela mania boba de transformar Haikais em discursos inflamados...

segunda-feira, junho 19, 2006

Fugas Imaginárias.

Tudo havia sido planejado cuidadosamente: Peguei dois pares de meias, três camisas, duas calças, algumas peças íntimas, os sonhos amarelados da infância, os desejos reprimidos da adolescência e os medos de uma vida inteira. Catei tudo e metodicamente guardei na velha mochila verde.
A parte mais difícil era guardar o segredo. Tudo devia ser executado como uma pequena conspiração.
Há muito tempo sentia como um escravo, vivia mergulhado naquele banzo interminável.
Esperei vir a noite escura, quando as estrelas ficam menos tímidas, para executar aquele ato libertador. Quando meu captor adormeceu naquele leito com cheiro de ontens, saí da cama pé-ante-pé, calcei meu all star velho, tirei a bolsa de subversões escondidas e abri a janela devagar. Tudo no mais perfeito silencio.
Coloquei o primeiro pé do lado de fora e lembrei de tudo que deixaria para trás: os doces de tia Teresa, os afagos da mãe carinhosa e toda sorte de criaturas fantásticas fugidas da cabeça. Coloquei o segundo pé do lado de fora e olhei pela janela uma vez mais. Ele ainda estava ali deitado adormecido como um velho mapa, cheio de caminhos a percorrer mas sem pés andantes, enquanto eu preparava toda aquela fuga imaginária. Desde que ele decidiu não mais sonhar, decidi que precisava ir embora.
Foi assim que aconteceu no dia em que Eu resolvi fugir de Mim.

terça-feira, junho 06, 2006

Um estranho no banheiro

A primeira vez que o vi foi em uma manhã de terça-feira. Eu enrolado em uma toalha, o rosto coberto de espuma. Foi no meio da trajetória, enquanto deslizava a lâmina naquele ato subversivo, quando pele e aço se unem para arrancar do semblante parte dos anos e histórias que se acumulam em forma de pêlo. Foi ali, num dos mais íntimos atos da vida de um homem, que notei sua presença. Parecia ter tomado consciência de mim ao mesmo tempo que eu dele. Ficamos lá, nos encarando, franzindo a testa e percorrendo o corpo um do outro com os olhos.
Não sei o que me perturbava mais, o fato de ter um homem semi-nu no meu banheiro, ou aquele estranho ter algo sublinearmente familiar, ainda que distante.
Sua feição se contraía. Talvez a mesma sensação de familiaridade e estranheza casadas passasse na sua cabeça.
Ficamos lá parados, barbeadores à mão. Uma espécie de duelo silencioso, como dois samurais empunhando suas lâminas travando um combate de espírito através dos olhos. Ninguém cederia.
Toquei meu rosto com uma das mãos e ele correspondeu de forma simétrica. Aproximamos os rostos e avaliamos as linhas que marcavam nossas vidas, desenhadas em traços incertos. Eu analisava com uma estranha curiosidade aquelas marcas em sua testa, entre seus olhos e nas maçãs do rosto. Marcas de noites mal-dormidas, dias estressantes e sorrisos de momentos agradáveis. Eram marcas suaves ainda, mas que com o tempo ganhariam mais destaque, dependendo das escolhas e dos fatos da vida de cada um. Havia algo naqueles olhos negros, uma espécie de brilho infantil escondido atrás de um olhar carregado de responsabilidades e uma agenda lotada. Era como um feriado bom que fica na memória e quando o sorriso de um dia feliz se manifesta, ele desliza para ver o sol. Ele parecia ver também no fundo dos meus algo intrigante.
Milhares de coisas passavam na minha cabeça naquele instante, naquela eternidade contida em segundos de tempo parado. Observava as linhas em seu rosto e me perguntava o que teria sido da vida daquele estranho. Como seria sua rotina de trabalho, sua vida social, seus amores, suas vitórias, decepções... Tudo estava escrito ali, naquele estranho rosto familiar.
Por duas ou três vezes simultaneamente ensaiamos dizer algo um ao outro. Erguemos a mão entreabindo a boca e iniciamos, obedecendo à regra das boas maneiras, cedemos a iniciativa. Cedemos e silenciamos. Ambos demos um sorriso. O que mais se fazer em tão incomum situação?
O rádio voltou a tocar, o relógio antes parado observando tudo que se desenrolava voltou a correr. Dizem que o tempo é o voyer por excelência. Tentei ignorar tudo que se passava e voltei a me barbear. Ele decidiu fazer o mesmo.
Ficamos lá eu e aquele estranho no meu banheiro, tentando tocar a vida. Quem sabe um dia eu descubra quem é aquele que de uma hora pra outra resolveu morar no meu reflexo e dividir comigo minha sombra. Quantas vezes ainda teria aquele diálogo silencioso diante do espelho com esse estranho no banheiro, até descobrir ao menos o seu nome?
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Estranhos no espelho andam povoando o mundo inclinado.
Não é novidade, mas anda tudo corrido.
Eu ainda arranjo um jeito de me clonar pra poder dar conta de tudo.
[ps:Eu vou bolar o ensaio, prometo. E vai ser muito mais colorido. Amo]
[www.fotolog.com/cafeinaman]

segunda-feira, maio 29, 2006

A balada do homem inclinado - Parte I


O homem inclinado sempre fora daquele jeito.Quando nasceu, todos pensavam ser ele um gancho [ou alguma outra coisa que não um alguém].Quando criança, todos na sala caçoavam dele, pelo andar esquisito e por sempre estar olhando praquele outro lado que ninguem mais vê. Olhar inclinado para a realidade adjacente...Na adolescência, seu "defeito" ganhou ainda mais evidência. Havia praticamente cortado todo tipo de contato com pessoas "retas" e cada dia se recolhia mais naquele mundo que ficava na curva diagonal à esquerda. Os personagens inclinados costumavam ser companias bem mais interessantes, quando se é torto...Logo após aquele período de confusão que acompanha a tenra idade, veio se assentar o peso das responsabilidades juvenis. Arcava com todas mas do seu jeito. Seu corpo às vezes tinha de virar à direita mas a imaginação seguia por onde queria. Nunca ia com os outros...
De tanto andar naquele lado entre os espaços, terminaria por desligar-se inteiro daquele mundo normalóide de pessoas desinclinadas. Andaria com a cabeça de lado e as idéias tortas atravessadas: Viveria no seu mundo imaginário junto da boneca de labios vermelhos, que era outra moradora daquele mundo-entre-mundos...

[continua...]

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O sr. tic-tac tem me devorado mais do que devia e ando em falta com os olhos dos ilustres seres que povoam o mundinho de zeros e uns. Do meio do front, resta dizer: ainda respiro! ainda sonho! e, mais do nunca, ainda sorrio!

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[www.fotolog.com/cafeinaman]



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[and you know that i´m here for you. always. for every thing. amo ]


o.

[para minha surpresa, no mesmo dia em que comecei a escrever esse texto vi uma pesquisa no jornal que revelou que cerca de 70 % das pessoas têm a postura inclinada para a direita]

segunda-feira, maio 22, 2006

mais tarde... mais tarde...

Se o crocodilo-tic-tac deixar, o sr coelho apressado de pés estrelados volta mais tarde pra diluir um pouco a realidade em forma de letras.

[suspiro]


ps: só você pra transformar meus fins de semana de cama e enxaqueca em felicidade colorida e açucarada.
amo.

domingo, maio 14, 2006

A senhora de imaginação acinzentada

O Ponto Duplo destoante, era filho da inconsistencia com o herói do mundo rodoviário. Desde cedo havia perdido o lado caqui, e portanto teve de assumir como pai-mãe a doce mulher que tinha o dom de trasformar qualquer coisa em guloseimas deliciosas [e os quilos a mais eram seus inimigos, ficavam bem longe dele].
A linda senhora tinha uma vida dura, mas um dos seus superpoderes era a capacidade de equilibrar abacaxis e dar cambalhotas triplas apoiada nos dedinhos dos pés sem perder o sorriso. Adivinhe de quem ele herdou o dom dos malabares...
Mais uma vez era um dos 365 dias anuais dela, e alguns quilômetros os separavam, mas seus orbitais eram ligados pela alma e mesmo sem ele poder dar um gostoso abraço apertado pelo quarto ano consecutivo, ela sabia bem que o conjurador de sonhos parido de seu ventre seria eternamente grato por tudo, e devia uma reticente soma imaginária. Impagável.
[Porque minha mãe tem superpoderes e hoje eu queria muito dar um abraço nela]

quarta-feira, maio 03, 2006

Apanhador de Sonhos

Ele era um colecionador.
Colecionava cores, delírios, incertezas, histórias, memórias, sorrisos e uma longa lista de coisas.
Entre seus itens de coleção favoritos, estavam os sonhos.
Catava sonhos de forma compulsiva. Listava e engavetava uns, soltava pela casa outros. Era divertido vê-los pululando pelos corredores.
Há muito tempo perdera a noção da quantidade de itens existentes ali mas a cada momento queria mais...
Os sonhos, que são criaturas totalmente imprevisíveis e portanto muito difíceis de se capturar, requerem um método apurado para a coleta e iscas especiais.
Usava iscas de açúcar pra pegar aqueles sonhos sorridentes; manhãs chuvosas e camas quentinhas para os dengosos; e para os suspirantes, beijos imaginários.
Para aqueles sonhos mais raros, únicos, usava palavras. Enfileirava elas de forma insana, regando com pretensões de poesia. Desconstuía em letras.
Atraia esse devagarinho, com cuidado para não assustá-lo. Enfeitava o caminho com pés de jujuba e sorrisos brilhantes pra que ele definitivamente não quisesse fugir.
Esse em particular não seria catalogado, muito menos engavetado, nem deixado solto pela casa. Não mesmo. Para esse havia pintado uma casinha bem colorida, com música alegre e cadeiras feitas de sonhos-bobos. Tudo bem construído no jardim de sua alma.
O colecionador cuidava bem de suas peças, e até aprendera com o pesadelo de oito patas a tecer um fio delicado, onde acrescentava miçangas colhidas de seus suspiros e longas penas de suas asas, pra fazer um belo filtro de sonhos gigante, e deixar os sonhos feios e sem cor bem longe, para que nunca chegassem perto do sagrado paraíso de seu mundo imaginário.
O apanhador de sonhos andava bem feliz com a última peça encontrada, a que faltava para a sua coleção, e já estava bem guardada em sua alma e vez ou outra brincava de escapulir pelo seu sorriso ou suas histórias

segunda-feira, maio 01, 2006

livros em chamas.

Às vezes acordava com aquele desconforto poético. Uma fagulha revoltada que inflamava dentro de si.
Era uma irritante necessidade de revolução, de enfrentar com marcha dura, aos brados fortes e irados a massa de normalóides fardados.
Era de fato um desconforto poético, literário, artístico...
Costumava se flagrar imaginando aquele cenário em chamas; ele com um lenço vermelho cobrindo o rosto e nas mãos livros pra atirar, verdadeiros cocktails molotov de desconstrução. Os lábios parindo aos gritos poesia, contra os assustadores gritos linearidade e moralismo cortando o ar.
Em seu mundo imaginário, plantava contos e colhia irrealidades. Lutava a guerra silenciosa no país da contra-cultura.
Às vezes ia dormir de mau-humor.

quarta-feira, abril 26, 2006

Receita de uma Guloseima Rara

Os ingredientes:
* quatro medidas de Sonhos felizes, que se colhe na imaginação daqueles seres sorridentes;
* uma colher de chá de melodias, daquelas que mexem com os batimentos cardíacos;
* cores à gosto. Dê preferência àquelas que escorrem de suspiros bem adocicados;
* uma dose livre de futuros possíveis, pra dar um certo ar de "huuum" à especiaria.
* para a cobertura, glacê à base de marshmallow e surpresas-de-quarta-feira.
Recheio:
* use e abuse da imaginação.
OBS: Caso resolva tornar a mistura mais deliciosa, adicione uma dose tripla de loucura, e todos os outros ingredientes em quantidades exageradas.
Modo de preparo:
* em uma vida bem corrida e por vezes cinzentas, misture tudo. Não há uma ordem específica.
* agite bem.
* é possível que pareça sem sentido. Isso é sinal de que a receita está funcionando.
* aqueça em dias chuvosos com costela coladinha: primeiro enlouqueça, só depois veja no que dá...
Sirva diariamente, de preferência em momentos inesperados, enfeitado com um laço roxo ou música [etíope, de preferência, que faz bem pro coração].
Sonhe e seja feliz.
OBS 2: O USO CONSTANTE CAUSA DEPENDÊNCIA, E EVIDENTES SINAIS DE FELICIDADE, FACILMENTE PERCEBIDOs PELO SORRISO BOBO ESTAMPADO E ARRITMIA CARDÍACA.
[you´re my favorite ice cream]

quarta-feira, abril 19, 2006

Pés de Gato

Às vezes era como um gato. Andava daquele jeito seu, silencioso. Parecia deslizar sobre o chão andando apressado mas sem fazer barulho algum.
Divertia-se, vendo o susto dos transeuntes [quando ele deixava eles perceberem sua passagem]: Tinha aquela coisa boba de brincar sozinho.
Quando não estava naquele bailado silencioso, ficava quietinho observando. Prestava atenção em tudo: nos gestos das pessoas, suas roupas, sua interação; nos pássaros pulando daquele jeito engraçado, perto da barraquinha de cachorro-quente; nas cores da rua, seus barulhos, cheiros... adorava observá-la, quando ela não estava olhando [e também quando ela não estava lá, pois vivia perambulando pela imaginação dele]. O jeito como cruzava as pernas e mexia os pés, como suas mãos delicadas percorriam o cabelo, a forma como o lábio dela se encurvava enquanto falava... prendia-se à esses detalhes bobos.
Era realmente impossível não andar sempre com aquele olhar tranquilo [mas deveras certeiro], e com seu jeito desastrado terminava desviando a atenção dos que pensavam observá-lo.
O que não dava mesmo pra disfarçar era aquele sorriso bobo com um ar de mistério. Talvez sempre soubesse de algo a mais que a maioria das pessoas; talvez risse de suas piadas pessoais que quase ninguém mais entenderia ou talvez mesmo estivesse apenas feliz, como há muito tempo não ficava...
E continuava a caminhar, silencioso, felino, brincando de ser invisível se escondendo dos olhos mais atentos...

sexta-feira, abril 14, 2006

Ele esqueceu o título legal que havia pensado.

Sr pés trocados, o equilibrista de sonhos e aerobata de ilusões, andava praticando um novo truque: equilibrar sorrisos em uma perna só, dando cambalhotas e cantarolando. Aperfeiçoava-se.
O público agradece.
Metia-se em confusões arriscadas, com jeito de realidades prometidas. Já havia sido dito que ele era bom em aritmética: "o preço que se paga em relação ao custo benefício era percentualmente proporcional ao sorriso largo e aos borbolumes e vagaletas que tamborilavam na barriga. Aplicando-se uma taxa de juros moratórios abusiva pra compensar uma vida de espera, teria de regar diariamente os girassóis histericos com momentos mágicos. O resultado da conta é um lucro em forma de sonhos pintados de realidade e futuros desejados. Simples."
Corria pra ver se o tempo passava logo, pra poder acrescentar denovo aquele tom à sua alma sorridente.

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- tenho chado ele estranho. você não?
- ele SEMPRE é estranho.
- é... mas estranho estranho, entendeu?
- ...
- vai ver ele tem um segredo.
- ele sempre tem um segredo.
[e ele ri bobo, brincando com suas descontruções]

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Aceito um alto-falante bem potente de presente.

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E Teresa será entregue na segunda-feira. desejem-me sorte.

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segunda-feira, abril 10, 2006

sufoco-sufoco-corre-derruba-cata-corre-mais-respira

Ele andava com a cabeça nas nuvens, os pés no chão, o coração na mão e o juizo sabe-se lá onde.
Nesses dias ofegantes, se dedicava a tentar escrever sonhos [o que era difícil, já que o monstro papa-sonhos chamado relógio devorava seus momentos entre-horas], desconstruir e brincar com idéias pernetas.
Tornava-se um feirante de primeira, aprendendo involuntariamente a fazer malabarismo com pepinos e abacaxis espinhentos: fazia mágica pra tapar o buraco feito pela retirada do tapete sob seus pés por vegetais de globo ocular obeso. Multiplicava-se, e naquele dia até conseguiu estar em três lugares ao mesmo tempo. sufoco-sufoco-corre-derruba-cata-corre-mais-respira [sem parar de correr] - assina [suaviaminhaviaeadoMeritissimo]-corre-corre. ufa.
Ainda espremia um instante pra convencer cores açucaradas a entrar em uma caixa [e que por favor não saiam aos tapas com o pirlimpimpim que ele anda muito estressadinho] e colava estrelas (e seus dedos juntos, já que era todo desajeitado) pra ficar bonito. De recompensa recebia sorrisos, que valiam tudo (até os arranhões por tentar separar a briga das cores e pirlimpimpim dentro da caixa).
Quando chegava a noite, descobria que as costas tinham virado pátio de rally de tratores, e que algumas partes (que ele sequer sabia que existiam e talvez a descoberta merecesse um nobel) doíam de verdade.
Agora estava ali, e só então descobriu que terminara driblando os ponteiros, sonhando um pouco em forma de letras e que amanhã talvez as olheiras nem incomodassem. Mas precisava de sapatos novos, já que em tantas que anda, não há solado que aguente [menos ainda pés, e trocados...].
E acaba a segunda, enfim. só falta o resto da semana, e vai ser ótimo saber que espécie de vegetal, fruta ou legume de cor estranha o aguarda.
- suspiro -
o.

sábado, abril 08, 2006

Manhãs de sábado imaginárias.

Um café da manhã imaginário na cama:

-bom dia!

-huuum... (sorriso de manha, acompanhado de um apertar de olhos dengoso)

-te trouxe um café da manhã. Torradas, geléia especial, biscoitinhos e um café quentinho com cheiro de "bom dia feliz".

Ela não diz nada, apenas puxa ele de volta pra cama e o beija como se a madrugada ainda não tivesse ido embora.
Ainda restam todos os outros dias da vida de manhãs felizes.

*Café da manhã: "refeição mais importante do dia".
*Esquecer o café no criado mudo e sonhar entre as cobertas: refeição importantíssima para a alma.

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segunda-feira, abril 03, 2006

Curtas, da terra dos sonhos confundida com a outra.

Tamanho foi o susto do Sr. Coelho naquela manhã quando percebeu que seu relógio sem ponteiros havia parado.
Prestes a entrar em pânico lembrou: Seu tempo era reticente.
Se aninhou denovo entre as cobertas com um sorriso bobo e voltou pro mundo das cores, pra sonhar mais um pouquinho.
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Teresa foi moldada de forma apressada.
Entre passos corridos e horas marcadas, ia nascendo.
Pobrezinha, mal nascera e já tinha uma acentuada crise de identidade: não sabia se era filha da Noite Negra com o Corisco Zangado ou dos espasmos involuntários da mão do garoto inclinado.
Fosse como fosse, esperava sair do mundo amarelo-envelope pra imaginação dos devoradores de letras [que é de onde talvez tivesse vindo].
Em breve ele apresentaria Teresa, escapulindo dos cueiros pra irrealidade.
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Lá em cima, estratosféricamente falando: saltando em queda livre.
Aquela sensação de "não ter a mínima idéia", acompanhada do frio na barriga e do gosto das estrelas.
Entendeu??
é. Nem eu.
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quarta-feira, março 29, 2006











- Às vezes é tão dificil ser um sonhador...

- hunpf.

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Delírios histéricos e Interrogassonhos.



o.


[...]

domingo, março 26, 2006

ACORDORMECENDO.

Acordormecia.
Sorriava em lagrisos estrangraçados.
Perdiava-se.
Mordeijava estrelidentes borbolumes e vagaletas.
Retisentia interrogrilos pululantes no meio da imaginealidade.
Acordormecia.
Perambulava em reviravaivolta. Desachava.
Coloriava nova historealidade em vontasejos de açúCor.
Apostarriscava em ritmadelinhas.
Que infinite em retinuação.
Acordormecia.
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Tinha aquele andar torto e sorriso engraçado..
Uma vida sonhos, que coloriam o imaginário.
Mas cores gostam de passear.
Batia a cabeça em estrelas, pois era dado a voar alto.
Atordoado, ficava confuso. Lembrava de voltar.
Livre de si, percorria os caminhos escondidos.
Aterrisava vez ou outra, pra recuperar o fôlego.
Lembrava quando devia esquecer.
Acreditava uma vez mais.
Ia fundo. Ainda que não errasse o chão e caísse feio.
Kaffeetasse, para o corpo. Farbe, para a alma.
Aquele adorável teatro de sonhos verdadeiros...
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Sábados deveriam ser mais reticêntes e domingos menos saudosos.
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Caminhar na chuva e gritar de vez enquando junto dos trovões é um otimo exercício insano para a sanidade.
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[...]
O.